Ainda antes de Enslaved Odyssey to the West ter chegado à redacção em versão de antevisão, por alguma razão, a mistura entre os gráficos, estilo de jogabilidade e tema de Enslaved Journey to the West, fez com que ficasse atento ao desenrolar do desenvolvimento do jogo. Depois de duas antevisões feitas e algum tempo a explorar a versão de antevisão, chegou finalmente a hora de jogar Enslaved Odyssey to the West na sua versão final e poder saber finalmente qual a sua real qualidade.
Enslaved Odyssey to the West coloca duas personagens totalmente distintas, juntas numa demanda épica numa América devastada por uma guerra travada entre Mechs (robôs) e os humanos, onde os Mechs acabaram por levar a melhor. Aprisionados pela organização Pyramid, tanto Monkey como Trip acabam por conseguir escapar de uma nave transportadora de escravos e despenhar-se em Nova Iorque. Sendo uma perita em tecnologia e engenhocas, Trip aproveita o estado de inconsciência de Monkey para lhe colocar uma Slave Headband (Tiara de escravidão) e assim, obriga-lo a ajuda-la a voltar à sua aldeia natal.
Claro que isto não agrada Monkey de forma alguma, mas vê-se obrigado a fazê-lo, pois se Trip morrer, Monkey morre também e Trip nunca iria conseguir sobreviver sozinha. Isto faz com que Enslaved Odyssey to the West arranque com um nível de desconfiança elevado entre as duas personagens, mas à medida que a história avança, cada uma das virtudes de ambas as personagens vai acabar por criar um elo de confiança e amizade incrivelmente fortes, aos quais qualquer jogador não vai conseguir ficar indiferente. A história foi escrita por Alex Garland (A Praia e 28 dias depois) e apresenta-se bastante forte e sólida, oferecendo momentos dramáticos bastante bons, que balançam facilmente entre a esperança e felicidade, até a derrota ou desespero. É possível dizer que a química entre as personagens de Enslaved Journey to the West soa a algo quase credível, o que faz com que queiram avançar mais um capítulo e descobrir qual o destino das personagens.
A isto tudo ajuda que as expressões faciais e movimentos corporais tenham sido feitos por actores reais, entre os quais Andy Serkis, que deu a voz e corpo a Gollum no Senhor dos Anéis, mas já vamos abordar este elemento mais à frente. Como jogo, Enslaved Journey to the West encaixa entre as plataformas e acção, onde os dois géneros se misturam de forma harmoniosa, acessível e bem estruturada. As secções de plataformas podem fazer lembrar a espaços, Uncharted 2 Among Thieves, já quando passa para a acção, em vez de dar preferência às armas de longo alcance, Monkey prefere usar o bastão para atacar e um escudo de energia para defender. Existe também a possibilidade de usar o bastão para atirar projecteis explosivos ou até projecteis de EMP para paralisar os Mechs, algo útil quando estes têm escudos activados ou estão a disparar de uma zona inacessível. Quando em combate, Monkey consegue facilmente saltar entre inimigos, mesmo quando rodeado por vários Mechs, o que oferece alguma estratégia contra os diversos tipos de Mechs que vão aparecendo.
Enquanto alguns Mechs atacam directamente com força bruta, outros utilizam elementos para causar dano ou paralisar Monkey. É essencial definir a estratégia de ataque pois os Spammers vão acabar por perder mais tarde ou mais cedo, há que perceber quando se deve atacar e defender. Alguns Mechs permitem ainda utilizar funções especiais dos mesmos, como a sua onda de EMP contra outros, ou ainda sabotar um de forma a que este rebente perto dos restantes. Por vezes alguns Mechs vão começar a chamar por ajuda, por isso há que os eliminar o mais depressa possível, embora, seja possível recolher mais orbs que estes deixam após serem abatidos.
Durante a acção, vão encontrar vários Bosses que, ora são enfrentados em sequências cinemáticas pré-definidas, ou então em combate directo e aberto onde a missão é esvaziar a vida dos mesmos. Normalmente estes combates também requerem alguma estratégia e não vale a pena entrar a matar contra qualquer boss que aparece. Para uns é necessário paralisar antes de atacar, outros é necessário usar o cenário em nosso favor.
Mas cada vez que combatem o mesmo tipo de Mech, este torna-se mais frágil, pois Trip consegue descobrir as fraquezas de cada um após estes serem destruídos. Em termos de jogabilidade, outro elemento essencial de Enslaved Odyssey to the West, do qual é obrigatório falar, é da Cloud. Embora tenha esse nome, a Cloud não é propriamente uma nuvem, mas sim uma espécie de escudo planador com o qual Monkey consegue percorrer os cenários mais depressa e até andar por cima de água. A Cloud é uma adição bastante divertida e que varia ainda mais a jogabilidade, pena é a sua utilização estar limitada apenas a certas zonas.Quando derrotam inimigos ou exploram os cenários, vão encontrar frequentemente Orbs espalhadas. Em Enslaved Odyssey to the West, estas esferas luminosas servem como moeda de troca para que Trip consiga desbloquear novas habilidades para Monkey, como um escudo que resiste durante mais tempo, ou um aumento na barra de vida, assim como mais e melhores ataques.
Estas Orbs não são raras e apenas os mais distraídos é que não vão conseguir melhorar todos os atributos de Monkey numa só aventura. Voltando então à vertente visual de Enslaved Odyssey to the West, não há qualquer margem para dúvida que estamos perante um dos jogos mais apelativos a nível visual desta geração, além de um dos melhores em termos gráficos concretos. Enslaved Odyssey to the West mostra cenários arrebatadores, como a já mencionada Nova Iorque aglutinada pela natureza, além tantas outras localizações de cortar a respiração (a colina do moinho de vento é impressionante). É curioso ver como a Ninja Theory fugiu ao estigma dos mundos pós-apocalípticos cinzentos e desolados para um mundo colorido e extremamente rico, o que só favorece toda a experiência.
As personagens de Enslaved Odyssey to the West também merecem algum tempo de análise, pois tal como já foi dito, além de serem altamente credíveis na sua representação, são assustadoramente reais em termos de expressões. Sentimentos como medo, raiva, tristeza e felicidade são realmente sentidos através da face das personagens e os seus movimentos, recriados através de sessões de detecção de movimentos com actores reais, mostram que deu frutos, para criar personagens autênticas e extremamente detalhadas, parecendo por vezes pessoas reais. As vozes também estão a um bom nível, com Andy Serkis a arrancar em grande no papel de Monkey.
A actriz que dá a voz a Trip começa algo em falso, mas acaba por apanhar o ritmo e cresce bastante durante a aventura. Mais tarde vão encontrar outras personagens (como Pigsy), que também oferecem vozes fortes e no sítio certo. A nível musical e sonoro, as músicas foram bem trabalhadas para oferecer um misto entre um grande filme de acção e aventura e uma espécie de mundo deixado ao abandono. É bom no geral, mas por vezes parece que se perde algo no meio da acção, baixando demasiado o volume.
No que toca aos sons, podem contar com os guinchos mecânicos dos vários Mechs e dos animais do mundo em redor. Porém, em certas alturas é notório que o som de determinados objectos falha, o que provoca, por exemplo, explosões silenciosas nas cinemáticas. Enslaved Odyssey to the West é essencialmente uma experiência dedicada ao singleplayer, por isso, não contem com mais conteúdo após o término da aventura. O Jogo dura cerca de 10 horas a acabar, embora não seja de todo impossível que queiram repetir a experiência de forma a perceber melhor alguns pormenores e apanhar as máscaras de memória que ficaram pelo caminho. Ao contrário do que acontece na maioria dos jogos recentes, Enslaved Odyssey to the West não tem qualquer tipo de Online, o que é uma pena e acaba por afectar um pouco a longevidade.
No meio de tantos pontos altos, Enslaved Odyssey to the West tinha de ter alguns baixos, e além do problema do som, deparei com alguns problemas de detecção de colisão das personagens em relação ao cenário que causavam alguns bugs estranhos enquanto a personagem não fica fixa num só sítio. Existem alguns problemas de frame rate em zonas mais populadas de inimigos e por vezes surgiu um ecrã de loading em tempo real numa mudança de zona. De resto, não há muito mais a assinalar que seja relevante ou estrague de todo a experiência.
Durante o meu tempo com Enslaved Odyssey to the West, lembrei-me por diversas vezes de ICO, não por ser exactamente o jogo de andar a escoltar a princesa e ter de a proteger do perigo, mas sim pela ambiência algo sobrenatural do e da empatia que as personagens principais vão ganhando uma pela outra. Basicamente, Enslaved Odyssey to the West faz lembrar a espaços as mega produções americanas, pois isto seria certamente um ICO à moda de Hollywood. Eis que Enslaved Odyssey to the West chegou finalmente e ao contrário de grande parte dos jogos que criam grandes expectativas acaba por não desapontar. É uma experiência altamente recomendada e uma referência em vários departamentos, especialmente na adaptação de uma história forte e da criação de personagens, até certo ponto, quase humanas.
Daniel Silvestre in MyGames
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