quarta-feira, 20 de julho de 2011

Horas Vivas

Noite: abrem-se as flores... 
          Que esplendores! 
Cíntia sonha amores 
          Pelo céu. 
Tênues as neblinas 
          Às campinas 
Descem das colinas, 
          Como um véu. 

Mãos em mãos travadas, 
          Animadas, 
Vão aquelas fadas 
          Pelo ar; 
Soltos os cabelos, 
          Em novelos, 
Puros, louros, belos, 
          A voar. 

— “Homem, nos teus dias 
          Que agonias, 
Sonhos, utopias, 
          Ambições; 
Vivas e fagueiras, 
          As primeiras, 
Como as derradeiras 
          Ilusões! 

— Quantas, quantas vidas 
          Vão perdidas, 
Pombas mal feridas 
          Pelo mal! 

Anos após anos, 
          Tão insanos, 
Vêm os desenganos 
          Afinal. 

— “Dorme: se os pesares 
          Repousares, 
Vês? – por estes ares 
          Vamos rir; 
Mortas, não; festivas, 
          E lascivas, 
Somos – horas vivas 
          De dormir!” – 


Machado de Assis in "Crisálidas"

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