quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sem Privação Não Há Felicidade

NO FEAR

O animal humano, como os outros animais, está adaptado para uma certa luta pela vida e quando, graças à sua riqueza, o homo sapiens pode satisfazer todos os desejos sem esforço, a simples ausência do esforço na sua vida afasta dele um elemento essencial de felicidade. O homem que adquire facilmente as coisas pelas quais sente apenas um desejo moderado, conclui que a realização do desejo não dá felicidade. Se tem disposição para a filosofia, conclui que a vida humana é essencialmente desprezível, pois o homem que tem tudo o que precisa ainda assim é infeliz. Esquece-se de que privar-se dalgumas coisas que precisa é parte indispensável da felicidade.

Bertrand Russell in "A Conquista da Felicidade"

Ambição


Examinemo-nos no momento em que a ambição nos trabalha, em que lhe sofremos a febre; dissequemos em seguida os nossos «acessos». Verificaremos que estes são precedidos de sintomas curiosos, de um calor especial, que não deixa nem de nos arrastar nem de nos alarmar. Intoxicados de porvir por abuso de esperança, sentimo-nos de súbito responsáveis pelo presente e pelo futuro, no núcleo da duração, carregada esta dos nossos frémitos, com a qual, agentes de uma anarquia universal, sonhamos explodir. Atentos aos acontecimentos que se passam no nosso cérebro e às vicissitudes do nosso sangue, virados para o que nos altera, espiamos-lhe e acarinhamos-lhe os sinais. 

Emil Cioran in "História e Utopia"

terça-feira, 24 de julho de 2012

Por Estas Noites


Por estas noites frias e brumosas
É que melhor se pode amar, querida!
Nem uma estrela pálida, perdida
Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas
Mas um perfume cálido de rosas
Corre a face da terra adormecida ...
E a névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:
Sombras errantes, corpos nus, ardentes
Carnes lascivas ... um rumor vibrante
De atritos longos e de beijos quentes ...
E os céus se estendem, palpitando, cheios
Da tépida brancura fulgurante
De um turbilhão de braços e de seios.


Olavo Bilac in "Poesias"

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Depeche Mode - Dangerous

Abdica e Sê Rei de Ti Mesmo


Frutos, dão-os as árvores que vivem,
Não a iludida mente, que só se orna
Das flores lívidas
Do íntimo abismo.

Quantos reinos nos seres e nas cousas
Te não talhaste imaginário! Quantos,
Com a charrua,
Sonhos, cidades!

Ah, não consegues contra o adverso muito
Criar mais que propósitos frustrados!
Abdica e sê
Rei de ti mesmo.


Ricardo Reis in "Odes"

terça-feira, 17 de julho de 2012

Insiste Em Ti Mesmo


Insiste em ti mesmo; nunca imites. A todo o momento, podes exibir o teu próprio dom com a força cumulativa de toda uma vida de estudo; mas do talento imitado de outro tens apenas posse parcial e momentânea. Aquilo que cada um sabe fazer de melhor só pode ser ensinado por quem o faz. Ninguém sabe ainda o que seja, nem o pode saber, enquanto essa pessoa não o demonstrar. Onde está o mestre que pudesse ter ensinado Shakespeare? Onde está o mestre que pudesse ter instruído Franklin, ou Washington, ou Bacon, ou Newton? Todo o grande homem é único.

Ralph Waldo Emerson in "Essays"


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Não Tenho Pressa


Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Alberto Caeiro in "Poemas Inconjuntos"

domingo, 15 de julho de 2012

Promessa


"Cumpre em relação aos outros aquilo que só a ti próprio prometeste."
René Char

Rammstein Live Völkerball



Ahoi Tour, 2005, France.

Playlist:
01. Reise, Reise
02. Links 2 3 4
03. Keine Lust
04. Feuer Frei!
05. Asche zu Asche
06. Morgenstern
07. Mein Teil
08. Stein um Stein
09. Los
10. Du Riechst So Gut
11. Benzin
12. Du Hast
13. Sehnsucht
14. Amerika
15. Rammstein
16. Sonne
17. Ich Will
18. Ohne Dich
19. Stripped

Filme da Semana: Red Lights



Red Lights” é um thriller que conta nos principais papéis com: Robert De Niro, Sigourney Weaver, Cillian Murphy, Toby Jones e Elizabeth Olsen. Este segue a história da psicóloga Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e do seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy), que estudam e desacreditam a atividade paranormal e psíquica. Mas será que conseguem derrubar o psíquico mundialmente conhecido Simon Silver (Robert De Niro), que regressa da reforma três décadas depois? “Red Lights” é escrito e realizado por Rodrigo Cortés (“Buried”).

Sinopse:

Dois investigadores de fraudes envolvendo pretensos fenómenos paranormais, a veterana Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e o seu jovem assistente, Tom Buckley (Cillian Murphy), estudam os mais variados fenómenos sobrenaturais para provarem que se tratam de embustes.
Simon Silver, um lendário vidente, reaparece após uma ausência de 30 anos para se tornar no maior desafio tanto para a ciência como para os céticos.
Tom desenvolve uma forte obssessão por Silver, que se torna mais poderoso a cada novo acontecimento inexplicável. À medida que Tom se aproxima de Silver, a tensão aumenta e a sua visão do mundo é ameaçada.
in BestCine

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Rodopio


Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas tôrres de marfim.

Ascendem hélices, rastros...
Mais longe coam-me sois;
Há promontórios, farois,
Upam-se estátuas de herois,
Ondeiam lanças e mastros.

Zebram-se armadas de côr,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor...

Cristais retinem de mêdo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços...
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segrêdo.

Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lirios;
Contorcionam-se círios,
Enclavinham-se delírios.
Listas de som enveredam...

Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.

Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emmaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de anseantes...

(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas -
Um lenço, fitas, dedais...)

Há elmos, troféus, mortalhas,
Emanações fugidias,
Referências, nostalgias,
Ruínas de melodias,
Vertigens, erros e falhas.

Há vislumbres de não-ser,
Rangem, de vago, neblinas;
Fulcram-se poços e minas,
Meandros, paúes, ravinas
Que não ouso percorrer...

Há vácuos, há bolhas de ar,
Perfumes de longes ilhas,
Amarras, lemes e quilhas -
Tantas, tantas maravilhas
Que se não podem sonhar!...


Mário de Sá-Carneiro in "Dispersão"

terça-feira, 10 de julho de 2012

O Conceito e a Imagem


Entre a imagem e o conceito, nenhuma síntese. Tampouco essa filiação, sempre dita, jamais vivida, pela qual os psicólogos fazem o conceito emergir da pluralidade das imagens. Quem se entrega com todo o seu espírito aos conceitos, com toda a sua alma às imagens, sabe bem que os conceitos e as imagens se desenvolvem em linhas divergentes da vida espiritual.

Gaston Bachelard in "A Terra e os Devaneios do Repouso"

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Estás Só


Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

Ricardo Reis in "Odes"

domingo, 8 de julho de 2012

Nirvana


Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!


Antero de Quental in "Sonetos"


sábado, 7 de julho de 2012

U2 - Love Is Blindness



Love is blindness
I don't wanna see
Won't you wrap the night
Around me?
Oh my heart
Love is blindness
In a parked car
In a crowded street
You see your love
Made complete
Thread is ripping
The knot is slipping
Love is blindness

Love is clockworks
And cold steel
Fingers too numb to feel
Squeeze the handle
Blow out the candle
Love is blindness

Love is blindness
I don't want to see
Won't you wrap the night
Around me?
Oh my love
Blindness

A little death
Without mourning
No call
And no warning
Baby, a dangerous idea
That almost makes sense

Love is drowning
In a deep well
All the secrets
And no one to tell
Take the money
Honey
Blindness

Love is blindness
I don't want to see
Won't you wrap the night
Around me?
Oh my love
Blindness.

A Razão é um Instrumento do Prazer


Não existe objecto das nossas paixões, não importa quão vil ou despre­zível possa parecer, que deixemos de julgar como bom quando senti­mos prazer em possuí-lo. (...) Todas as coisas são merecedoras de amor ou aversão, seja em si mesmas, seja por meio de algo a que este­jam associadas; e, quando somos movidos por alguma paixão, nós rapidamente descobrimos no objecto o bem ou o mal que a alimenta. (... ) Isso é suficiente para fazer a razão, comumente um instrumento do prazer, funcionar de modo a defender a causa desse prazer.

Nicolas Malebranche in "Procura da Verdade"

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Depeche Mode - Live In Barcelona Full Concert 2009



01. In Chains
02. Wrong
03. Hole To Feed
04. Walking In My Shoes
05. It's No Good
06. A Question Of Time
07. Precious
08. Fly On The Windscreen
09. Jezebel
10. Home
11. Come Back
12. Policy Of Truth
13. In Your Room
14. I Feel You
15. Enjoy The Silence
16. Never Let Me Down Again
17. Dressed In Black
18. Stripped
19. Behind The Wheel
20. Personal Jesus
21. Waiting For The Night

Estreia da Semana: O Fantástico Homem-Aranha



O novo filme do Homem-Aranha, o herói da Marvel também mundialmente conhecido como Spider Man, chama-se no original “The Amazing Spider-Man”, ou “O Fantástico Homem-Aranha” na tradução para português. O filme vai começar do início a história da personagem Spider Man, e portanto não dará continuidade aos anteriores três filmes que Toby Maguire protagonizou, como o próprio Spider Man. Andrew Garfield é o nome do novo Homem-Aranha. Esta versão tenta ser um pouco mais fiel à banda-desenhada original do Spider Man, criado por Stan Lee. A estreia de “O Fantástico Homem-Aranha” é a 5 de julho de 2012.


Sinopse:

A história de Peter Parker, um rapaz que foi abandonado pelos seus pais enquanto criança e foi criado pelo seu tio Ben e tia May. Como a maioria dos adolescentes, Peter tenta descobrir quem ele é e como ele tem de ser como pessoa.
Peter tenta também encontrar o seu caminho com a sua primeira paixão Gwen Stacy, e juntos, eles lutam com amor, compromisso e segredos. Quando Peter descobre uma misteriosa mala que pertencia ao seu pai, ele começa uma busca para tentar compreender o desaparecimento dos seus pais, o que o leva directamente para Oscorp e para o laboratório do Doutor Curt Connors, o ex-sócio do seu pai.
Como o Homem-Aranha se encontra numa rota de colisão com o alter ego de Connors, The Lizard, Peter vai tomar decisões que vão mudar a sua vida, usando os seus poderes e alterando o seu destino ao tornar-se um herói.
Quarto filme da saga Homem-Aranha pela Columbia Pictures e o primeiro a não ser realizado por Sam Raimi, um “reboot” que nos chega pelas mãos de Marc Webb (“(500) Days of Summer”).

in BestCine

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mors - Amor


Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"


Antero de Quental in "Sonetos"

Lana Del Rey - Born To Die



Feet don't fail me now
Take me to the finish line
All my heart, it breaks every step that I take
But I'm hoping that the gates,
They'll tell me that you're mine
Walking through the city streets
Is it by mistake or design?
I feel so alone on a Friday night
Can you make it feel like home, if I tell you you're mine
It's like I told you honey

Don't make me sad, don't make me cry
Sometimes love is not enough and the road gets tough
I don't know why
Keep making me laugh,
Let's go get high
The road is long, we carry on
Try to have fun in the meantime

Come and take a walk on the wild side
Let me kiss you hard in the pouring rain
You like your girls insane
Choose your last words
This is the last time
Cause you and I, we were born to die

Lost but now I am found
I can see but once I was blind
I was so confused as a little child
Tried to take what I could get
Scared that I couldn't find
All the answers, honey

Don't make me sad, don't make me cry
Sometimes love is not enough and the road gets tough
I don't know why
Keep making me laugh,
Let's go get high
The road is long, we carry on
Try to have fun in the meantime

Come and take a walk on the wild side
Let me kiss you hard in the pouring rain
You like your girls insane
Choose your last words,
This is the last time
Cause you and I
We were born to die
We were born to die
We were born to die

Come and take a walk on the wild side
Let me kiss you hard in the pouring rain
You like your girls insane

Don't make me sad, don't make me cry
Sometimes love is not enough and the road gets tough
I don't know why
Keep making me laugh,
Let's go get high
The road is long, we carry on
Try to have fun in the meantime

Come and take a walk on the wild side
Let me kiss you hard in the pouring rain
You like your girls insane
Choose your last words
This is the last time
Cause You and I
We were born to die
We were born to die

terça-feira, 3 de julho de 2012

Fun.: We Are Young ft. Janelle Monáe



Give me a second I,
I need to get my story straight
My friend's are in the bathroom getting higher than the Empire State
My lover she's waiting for me just across the bar
My seat's been taken by some sunglasses asking about a
scar, and
I know I gave it to you months ago
I know you're trying to forget
But between the drinks and subtle things
The holes in my apologies
You know I'm trying hard to take it back
So if by the time the bar closes
And you feel like falling down
I'll carry you home

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter than the sun

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter than the sun

Now I know it I'm not
All that you got
I guess that I, I just thought
Maybe we could find new ways to fall apart
But our friends are back
[ From: http://www.elyrics.net/read/f/fun-lyrics/we-are-young-(Ft.-janelle-monae)-lyrics.html ]
So let's raise a cup
'Cause I found someone to carry me home

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter than the sun

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter than the sun
Carry me home tonight (Nananananana)
Just carry me home tonight (Nananananana)
Carry me home tonight (Nananananana)
Just carry me home tonight (Nananananana)

The world is on my side
I have no reason to run
So will someone come and carry me ho,me

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter than the sun

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter than the sun

So if by the time the bar closes
And you feel like falling down
I'll carry you home tonight

Não Ser


Quem me dera voltar à inocência
Das coisas brutas, sãs, inanimadas,
Despir o vão orgulho, a incoerência:
- Mantos rotos de estátuas mutiladas!

Ah! arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!

Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!

Ser haste, seiva, ramaria inquieta,
Erguer ao sol o coração dos mortos
Na urna de oiro duma flor aberta!...

Florbela Espanca in "Charneca em Flor"

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nada nos Satisfaz


Se ocasionalmente nos ocupássemos em nos exa­minar, e o tempo que gastamos para controlar os outros e para saber das coisas que estão fora de nós o empregás­semos em nos sondar a nós mesmos, facilmente sentiríamos o quanto todo esse nosso composto é feito de peças frágeis e falhas. Acaso não é uma prova singular de imperfeição não conseguirmos assentar o nosso contentamento em coi­sa alguma, e que, mesmo por desejo e imaginação, esteja fora do nosso poder escolher o que nos é necessário? Dis­so dá bom testemunho a grande discussão que sempre houve entre os filósofos para descobrir qual é o soberano bem do homem, a qual ainda perdura e perdurará eterna­mente, sem solução e sem acordo: Enquanto nos escapa, o objecto do nosso desejo sempre nos parece preferível a qualquer outra coisa; vindo a desfrutá-lo, um outro desejo nasce em nós, e a nossa sede é sempre a mesma. (Lucrécio).
Não importa o que venhamos a conhecer e des­frutar, sentimos que não nos satisfaz, e perseguimos cobi­çosos as coisas por vir e desconhecidas, pois as presentes não nos saciam; em minha opinião, não que elas não te­nham o bastante com que nos saciar, mas é que nos apo­deramos delas com mão doentia e desregrada: Pois ele viu que os mortais têm à sua disposição praticamente tudo o que é necessário para a vida; viu homens cumulados de riqueza, honra e glória, orgulhosos da boa reputação de seus ftlhos; e entretanto não havia um único que, em seu foro íntimo, não se remoesse de angústia e cujo cora­ção não se oprimisse com queixas dolorosas; compreendeu então que o defeito estava no próprio recipiente, e que esse defeito corrompia tudo de bom que fosse colocado de fora em seu interior (Lucrécio).
O nosso apetite é indeciso e incerto: não sabe con­servar coisa alguma, nem desfrutar nada da maneira certa. O homem, julgando que isso seja um defeito dessas coi­sas, acumula e alimenta-se de outras coisas que ele não sabe e não conhece, em que aplica os seus desejos e espe­ranças, honrando-as e reverenciando-as; como diz César: Por um vício comum da natureza, acontece termos mais con­fiança e também mais temor em relação às coisas que não vimos e que es­tão ocultas e desconhecidas.

Michel de Montaigne in "Ensaios"

WHO AM I ???

A minha foto
Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier