domingo, 6 de dezembro de 2009

Introspecção

Após ter terminado a leitura dos dois primeiros livros da trilogia, As Cruzadas de Jan Guillou (uma vez que a editora Bertrand até a presente data não editou o terceiro e último volume), encontrei-me numa encruzilhada de pensamentos e sentimentos reportados aos que Arn Magnusson (personagem principal da história) viveu na história da sua vida, pois relembrei momentos em que tive ao meu alcance o vislumbrar de várias Crenças e Fés num mesmo espaço físico, o qual tive o privilégio de percorrer e conhecer, a Bósnia.
Embora este território não seja um exemplo de harmonia, pois, a confluência de ideologias e a possibilidade de um conflito são muito fortes, apenas serviu de contextualização para revelar a experiência única que é coabitar num mesmo espaço com divergências étnicas e religiosas profundas, onde a boa vontade e o diálogo são palavras-chave para uma comunhão de povos sem fanatismos e radicalismos.
Muitas das vezes questionei-me sobre estes mesmos radicalismos e o porquê de nos opormos ao nosso semelhante, o qual professa outra ideologia, outra política, outra crença, outra religião, será na realidade que ele é mesmo o inimigo, o demónio e o ímpio, não deveríamos ser tolerantes e viver num estado verdadeiramente laico em que todos os cidadãos entendessem o significado deste mesmo laicismo. Penso que a sociedade ocidental da qual faço parte, embora se auto-denomine tolerante e diga tudo e todos aceitar no seu seio, tem aparelhos de estado acérrimos defensores e praticantes de atitudes menos complacentes e que acicatam a "massa crítica" que é o seu povo a radicalismos extemporâneos que nos afastam do nosso semelhante, cujos ideais diferem dos nossos.
É neste capítulo, que se torna por demais evidente que os mídia, apoiados numa profunda iliteracia popular, têm um papel fulcral, pois ao transmitirem opiniões e ideias de forma perniciosa e facciosa (não se dão ao trabalho de procurarem pelo menos ser imparciais), não bebendo das "várias fontes" (opiniões de ambos os lados) para dar uma notícia, desinformam ao invés de informar.
Porém procuro um olhar diverso daquele com que hoje em dia somos "bombardeados" e tal como o jovem Arn se adaptou na Terra Santa e soube ver em Salah al-Din Yusuf Ibn Ayyub (Saladino), alguém que pelo diálogo era bastante razoável e concordava em questões de coexistência nunca renegando a sua própria fé ou procurando que Magnusson o fizesse, penso pois que embora romanciados estes factos deixam em aberto o diálogo entre os povos, e assim, não querendo ser mais um a "lançar achas para a fogueira", mas sim procurar entender as várias situações e ideias que nos separam, "vislumbro uma luz ao fundo do túnel".
Desta forma termino as minhas ilações tendo por base um período dito de concórdia e tolerância que se avizinha e deixo “no ar”, o que muitas vezes ouvia ao percorrer a Bósnia e que é o Adhan.
O Adhan ou Athaan (em árabe, أَذَان) ou seja a chamada para o salá (oração), feita aos muçulmanos, pelo muezim, a partir do minarete ou do exterior da mesquita, caso esta não possua minarete. Segundo a tradição, o adhan consistia originalmente numa frase simples ("Vinde à oração!"), mas o profeta Muhammad (Maomé) pediu aos seus crentes uma forma de tornar o apelo mais sofisticado e num sonho, o companheiro Abd Allah ibn Zayd teve a visão de que os crentes deveriam ser chamados de uma forma melodiosa, que é a forma que se impôs.
A prática da chamada consiste na seguinte recitação:

RepetiçõesÁrabeTransliteraçãoTradução
4xالله اكبرAllāhu AkbarDeus é o Maior
2xاشهد ان لا اله الا اللهAsh-hadu an-lā ilāha illallāhTestemunho que não há outra divindade além de Deus
2xاشهد ان محمدا رسول اللهAsh-hadu anna Muħammadan rasūlullāhTestemunho que Maomé é o mensageiro de Deus
2xحي على الصلاةHayya 'alas-salāhVenha para a oração
2xحي على الفلاحHayya 'alal-falāħVenha para a salvação
2xالصلاة خير من النومAṣ-ṣalātu khayru min an-naūmA oração é melhor que o sono *
2xالله اكبرAllāhu akbarDeus é o maior
1xلا اله الا اللهLā ilāha illallāhNão há outra divindade além de Deus

* É mencionado na primeira oração do dia (salat al fajr).



2 comentários:

Rog disse...

Bom trabalho!

Salam aleika, ya ahi!

Anónimo disse...

Aquelas raças, que viviam há séculos porta com porta, nunca tinham tido a curiosidade de se conhecer nem a decência de se aceitar mutuamente.(...) Mas cada hora de acalmia era uma vitória, precária como são todas; cada disputa arbitrada um precedente, uma garantia para o futuro. Importava-me muito pouco que o acordo obtido fosse exterior, imposto de fora, provavelmente temporário: sabia que o bem, como o mal, é uma questão de rotina, que o temporário se prolonga, que o exterior se infiltra no interior e que, com o decorrer do tempo, a máscara torna-se face. Pois que o ódio, a estupidez, o delírio têm efeitos duradouros, não via razão para que a lucidez, a justiça, a benevolência não tivessem também os seus. A ordem nas fronteiras não valeria nada se eu não persuadisse aquele adelo judeu e aquele salsicheiro grego a viverem tranquilamente lado a lado.

Marguerite Yourcenar, in "Memórias de Adriano"

Alguém que PENSA e faz pensar. GOSTEI...!!!

WHO AM I ???

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Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier