segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As Rosas


Rosas que desabrochais, 
Como os primeiros amores, 
Aos suaves resplendores 
Matinais; 

Em vão ostentais, em vão, 
A vossa graça suprema; 
De pouco vale; é o diadema 
Da ilusão. 

Em vão encheis de aroma o ar da tarde; 
Em vão abris o seio úmido e fresco 
Do sol nascente aos beijos amorosos; 
Em vão ornais a fronte à meiga virgem; 
Em vão, como penhor de puro afeto, 
Como um elo das almas, 
Passais do seio amante ao seio amante; 
Lá bate a hora infausta 
Em que é força morrer; as folhas lindas 
Perdem o viço da manhã primeira, 
As graças e o perfume. 
Rosas que sois então? – Restos perdidos, 
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha 
Brisa do inverno ou mão indiferente. 

Tal é o vosso destino, 
Ó filhas da natureza; 
Em que vos pese à beleza, 
Pereceis; 
Mas, não... Se a mão de um poeta 
Vos cultiva agora, ó rosas, 
Mais vivas, mais jubilosas, 
Floresceis. 


Machado de Assis in "Crisálidas"

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