sábado, 30 de janeiro de 2010

Artes Marciais - Karate de Okinawa

Durante a dinastia Ming (1368 a.C. a 1644 a.C.), a história conta-nos da existência de cinco monges que escaparam a destruição do Templo Shaolin (na China) tendo ficado conhecidos como " Os Cinco Ancestrais", vagueando por toda a China e ensinando cada um deles o seu próprio estilo de Kung Fu. Vários historiadores acreditam que deste facto surgiram os popularmente conhecidos estilos de Kung Fu:
O Tigre, O Dragão, O Leopardo, A Serpente e A Garça.
A Ilha de Okinawa (”Oki”: em Japonês oceano ou grande, e “nawa”: traduz-se por cadeia, corrente ou corda) tem um aspecto de uma corda nodosa e flutuante e é o centro de um arquipélago denominado pelos chineses de RyuKyu, estendendo-se desde o extremo sul do Japão até a ilha Formosa. A sua área de 1500 Km2 compreende uma centena de quilómetros de comprimento e uma largura variável entre os 30 e os 40 km, ocupando sozinha mais de metade da superfície do dito arquipélago RyuKyu.
Detêm uma posição privilegiada, uma vez que se encontra situada entre o Japão, a China e o Sudeste Asiático (Vietname, Tailândia, etc.) e rapidamente tornou-se num entreposto comercial extremamente activo.
Por volta do século XIV, a Ilha encontrava-se dividida em três reinos:
Chuzan era o maior deles e compreendia o centro da ilha, encontrando-se Hokuzan a Norte e Nazan a Sul.
Em 1349 o rei Chuzan faz uma aliança com a China e dá origem a um intercâmbio entre ambos os reinos (chineses e de Okinawa), onde as aldeias de Naha e Shuri se tornam cidades comerciais prósperas, empórios de todos os produtos do sudoeste asiático e onde se "acotovelavam" japoneses, chineses, indianos, malaios, tailandeses, árabes, etc. A história ainda refere que no ano de 1372, o rei de Okinawa Satto prestou voto de obediência ao Império Chinês Ming (1368-1644) e passou-lhe a pagar um tributo.
Cerca do ano de 1393 a china da Dinastia Ming manda para Okinawa um importante grupo de artesãos e artistas - mencionados em antigos documentos como “As 36 Famílias” – os quais se estabelecem em Okinawa numa pequena colónia, a pedido do governo da ilha, desempenhando um papel de vera importância na evolução cultural dos habitantes locais, ensinando-lhes a escrita chinesa (Kanji), prestando diversos serviços na administração pública do pequeno reino e destacando-se entre estes indivíduos aqueles que tinham conhecimento de Boxe Chinês e através dos quais surgem os primeiros vestígios de Shaolin Zu Kempo ou Chuan Fa, não se podendo contudo afirmar que essa arte tenha sido oficialmente introduzida por "verdadeiros mestres".
Em 1429, o Rei Sho Hashi unificou Okinawa, mas a queda deste império foi determinada por Sho Shi, que temendo a repetição dos conflitos e revoluções que grassavam pelo sudoeste asiático lança um édito, proibindo a manufactura e manuseio de armas pela população.
No inicio do século XVII, o Japão que saía de mais uma terrível guerra civil sendo vencedor o clã dos Togukawa e o vencido o clã dos Satsuma, dirigido pela família Shimazu. O novo Shogun demonstrando-se um hábil estratega e excelente diplomata desvia o furor dos Satsuma, derrotados mas não destruídos para arquipélago de Ryukyu (maneira astuciosa de se livrar do inimigo e estabelecer controlo japonês sobre uma Ilha então submissa à China).
Precisamente no dia 5 de Abril de 1609 os Satsuma invadem Okinawa que caiu sob o seu jugo após uma ligeira resistência e tomou o Castelo de Shuri, lá permanecendo até 1879, quando a ilha se tornou parte do império japonês, incorporada ao Império de Mitsuhito.
Mesmo depois da referida invasão e ocupação pelos Japoneses o comércio e o intercâmbio com a China mantiveram-se inalterados.
Anos mais tarde um representante militar chinês, Kong Shang-Kung, desembarcava em Okinawa, sendo identificado na ilha como Kushaku, um experiente praticante do sistema de Shaolin. Nos seis anos em que habitou em Okinawa, Kushaku ensinou o sistema (Tode) a dois habitantes de Okinawa, futuros Mestres Sakugawa e Kitan Yari.
Em 1669 o Clã Satsuma proibiu o uso de qualquer arma a não ser pelos Samurais, e com esta lei teve origem a arte do Kobudo, na qual os nativos de Okinawa utilizavam as ferramentas básicas do seu dia-a-dia (sai, tonfa, bo, kama, etc.) como armas. Porém, é difícil encontrar certezas no que respeita aos habitantes de Okinawa terem desenvolvido técnicas de luta devido a esta proibição do uso de armas pelos governantes do clã Satsuma. Tendo por sua vez, as evidências demonstrado que após 1609, o Ti era praticado como defesa pessoal e como meio de desenvolvimento físico pelos membros da nobreza.
A existência do TI pode ser comprovada desde o início do século XVII através de um poema escrito pelo eminente professor nativo de Okinawa nascido em 1663 chamado Teijunsoku (também conhecido como Nago Oyakata ) e que diz:
Não importa o quanto se esmerem na arte do Ti,
e nos seus esforços escolásticos,
nada é mais importante do que o vosso comportamento
e a vossa humanidade conforme o que se observa no quotidiano da vida.

Logo após a ocupação, Shimazu proibiu novamente o uso de porte de armas e também qualquer tipo de prática marcial, mas mesmo com a proibição da prática de qualquer actividade marcial, os habitantes de Okinawa continuaram a faze-lo em segredo criando o seu sistema de defesa pessoal, tendo assim o século XVIII assistido ao nascimento do TODE (mão chinesa) ou Okinawa-Te, ancestral ao Karate.
Sem dúvida que o dominante das técnicas de combate de mãos nuas era chinês e tinham sua “origem” no mosteiro de Shaolin na China (Kung Fu) e a proibição despertou o interesse pelas técnicas de combate e generalizou a prática até então restrita a uma minoria.
Foi com certeza uma época de treinos enfurecidos em lugares secretos, geralmente à noite, longe dos centros habitados entre discípulos de confiança. Ambiente que se manteve continuo até final do século XIX e o qual explica em parte a falta de documentos escritos sabendo-se pouco ao nível técnico neste período, excepto que os pés e as mãos tornavam-se armas eficientes e rápidas, capazes de substituírem as armas banidas.
Em 1868, o Japão entra na era Meiji, marcando a abolição do antigo sistema feudal e o nascimento de uma nova sociedade, mantendo-se Okinawa na posição de reino semi-independente até pouco depois da restauração Meiji.
Antes de 1879 as artes marciais eram reservadas às famílias mais nobres, e mesmo após essa data, poucas pessoas dos grupos sociais menos favorecidas (com pouco dinheiro ou sem tradição social) tinham ânimo para praticá-las.
O Tode começou a ser chamado karate na primeira metade do século XX, e embora a sua introdução tenha sido uma contínua evolução, muito do karate que é ensinado hoje em dia, ao contrário da crença popular, está baseado no Boxe Chinês (principalmente da área de Fuchou) trazido para Okinawa entre 1850 e 1950, alcançando o seu pico de introdução no final do século XIX.
O Tode desenvolveu-se, desta forma, no final do séc. XIX e inicio do século XX no meio das classes shizoku e dos seus descendentes, principalmente os habitantes de Naha, Tomari e Shuri.
Devido a diversos factores políticos a designação TODE de origem chinesa é alterada no seu kanji pelo mestre Gichin Funakoshi para Karate (mão vazia - japonês).
O Karate de Funakoshi teve origem na versão de Itosu do estilo ''shorin-ryu'' de Matsumura e que é comummente chamado de ''shorei-ryu''. Posteriormente o estilo de Funakoshi foi chamado por outros de ''shotokan'', tendo sido popularizado no Japão e introduzido nas escolas secundárias antes da Segunda Guerra Mundial.
Como muitas das artes marciais praticadas no Japão, o karate fez a sua transição para o ''karate-do'' no início do século XX.
O ''do'' em ''karate-do'' significa caminho, palavra que é análoga ao familiar conceito de ''tao''. Como foi adaptado na moderna cultura japonesa, o karate está imbuído de certos elementos do zen budismo, sendo que a prática do karate algumas vezes é chamada de “zen em movimento”. As aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos de meditação (mokuso). Também a repetição de movimentos, como a executada no ''kata'', é consistente com a meditação zen pretendendo maximizar o autocontrolo, a atenção, a força e velocidade, mesmo em condições adversas. A influência do zen nesta arte marcial depende muito da interpretação de cada instrutor.
A modernização e sistematização do karate no Japão também incluíram a adopção do uniforme branco (karategi) e de cintos de várias cores indicadoras do nível alcançado pelo aluno, ambos criados e popularizados por Jigoro Kano, fundador do Judo, uma vez que existiam fotos de antigos onde praticantes de karate em Okinawa surgem perante os seus mestres em roupas do dia-a-dia.
Durante anos o karate evoluiu em três linhas e três cidades distintas o Shuri-te de Shuri, o Naha-te de Naha e o Tomari-te de Tomari; cada um com características distintas:
Shuri-te = principalmente ofensivo, primava pela leveza e velocidade.
Naha-te = Principalmente defensivo primava pela poder interno e potente golpe.
Tomari-te = Era uma mistura de ambos os estilos anteriores e originou o estilo Shito-Ryu de Itosu.
Neste século XVIII também pouco se pode afirmar já que eram ensaiados os primeiros katas, mas muitos movimentos e atitudes estavam camuflados nas danças tradicionais a fim de despistar a desconfiança das autoridades. Ainda hoje podemos verificar e analisar estes movimentos nas danças tradicionais de Okinawa.
Porém pouco a pouco, homens mais dotados surgiram, estilos se diversificaram e líderes que vieram a se tornar mestres codificaram o seu estilo.
No século XIX foi a época da eclosão do Karate de Okinawa, logo no início desse século ou talvez no final século XVIII, as três grandes linhas mencionadas anteriormente surgiram em força.
Ao redor de Naha formou-se o Naha-Te, onde as suas técnicas fazem lembrar o Kung Fu do sul da China, com ênfase na utilização dos membros superiores (técnicas de punho curtas, circulares e destruidoras), a busca pelo corpo a corpo nas posições estáticas e pontapés baixos, é o estilo duro e flexível que produzirá o Goju Ryu designação criada pelo mestre Chojun Miyagi e que se distingue igualmente pela busca respiratória “IBUKI”, uma forma de Chi Kung Chinês (procura pela mobilização da energia vital interna).
Os katas são variados e complexos: Seisan, Saifa, Sanseru, Sanchin, Tensho, Sanseru, Suparinpei, etc.
A popularidade do karate de Okinawa cresceu por todo o mundo à medida que os próprios habitantes de Okinawa passaram a emigrar para o exterior em busca de melhores oportunidades, aproveitando para ensinar esta fascinante e eficiente arte marcial.


Karate-do (caminho da mão vazia) ou, simplesmente, Karate, é uma forma de budo (caminho marcial), o qual enfatiza as técnicas de percussão atemi waza (i.e. defesas, socos e pontapés) ao invés das técnicas de projecções e imobilizações. O treino de Karate pode ser dividido em três partes principais:
Kihon, Kata e Kumite.
Kihon (fundamentos) é o estudo dos movimentos básicos.
Kata (forma, padrão) é uma espécie de luta contra um inimigo imaginário expressa em sequências fixas de movimentos.
Kumite (encontro de mãos) é a luta propriamente dita. Na sua forma mais básica é combinada (com movimentos pré-determinados) entre os lutadores para, posteriormente, alcançar o jyu kumite (combate livre ou sem regras).
O Karate desportivo, ou combate com regras, é conhecido como Shiai-kumite.

Sem comentários:

WHO AM I ???

A minha foto
Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier