domingo, 14 de outubro de 2007

A LENDA DOS 47 RONINS



OISHI Kuranosuke


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A história verídica dos 47 Ronin (literalmente homem-onda em japonês, significado que traduzia a ideia de um guerreiro errante como uma onda perdida no meio do oceano) é a forma pela qual um samurai, sem ligações com um clã ou um daimyo (senhor), era conhecido) da província de Harima é provavelmente a história mais conhecida do valor dos ideais e do Bushido ((武士道) significa, literalmente, "caminho do guerreiro" - era um código de conduta não-escrito e um modo de vida para os Samurai (a classe guerreira do Japão feudal ou bushi), o qual fornecia parâmetros para esse guerreiro viver e morrer com honra).
A lenda começa em 1701, numa altura em que reinava a paz durante o Shogunato de Tokugawa. O Shogun Tsunayoshi vivia e reinava em Edo, enquanto o Imperador, que tinha muito pouco poder político, vivia em Kyoto. Para mostrar respeito para com o Imperador, Tsunayoshi enviava presentes para Kyoto por altura das celebrações do Ano Novo, e em retorno o Imperador mandava os seus presentes de Kyoto para Edo. Numa destas trocas de presentes Tsunayoshi decidiu enviar dois dos seus novos daimyos ((大名) eram os senhores feudais mais poderosos no período compreendido entre os séculos XII e XIX da história do Japão. Literalmente, em japonês, o termo significa "grande nome") para receber os mensageiros imperiais. Naganori Asano-Takuminokami, Senhor do Castelo de Ako na província de Harima e Munehare Date, Senhor de Sendai. Pelo facto destes daimyos serem muito inexperientes em receber tão altos visitantes, o Shogun decidiu designar um alto oficial chamado Yoshinaka Kira-Kozukenosuke para os apoiar. Kira, que era um homem arrogante e de mau fundo, ficou bastante irritado com o Senhor Asano por este não o presentear com caros artigos em sinal de apreciação e respeito pela sua ajuda. Desta forma, Kira em vez de ajudar o Senhor Asano prejudicava-o sempre que podia e rebaixava-o publicamente sempre que tinha oportunidade. Depois de um par de meses nesta situação de abuso a tolerância de Asano terminou.
A 14 de Março incapaz de suportar mais os insultos de Kira, o Senhor Asano desembainhou (em si uma ofensa capital quando efectuada dentro do castelo de Edo) a sua Katana ((刀) é a espada ou sabre longo japonês) e feriu Kira ao de leve. Por esta ofensa, o Shogun Tsunayoshi ordenou ao Senhor Asano que cometesse imediatamente seppuku ((切腹) é o termo formal para o ritual suicida chamado popularmente de harakiri (腹切り). Harakiri significa literalmente "cortar a barriga" ou "cortar o estômago") e Kira, por outro lado, não recebeu qualquer punição. Pelo contrário foi-lhe permitido continuar com os seus deveres oficiais. O facto do Shogun não ter punido Kira e ter ordenado a execução de seppuku a Lord Asano irritou por demais os seguidores e amigos de Asano. De acordo com as leis reinantes quando um samurai cometia seppuku, o seu castelo era confiscado pelo Shogun, e a sua família era deserdada, originando que os seus 321 samurais fossem ordenados a separar-se e a dispersar, tornando-se assim Ronins. Os samurais de Asano não estavam muito conscientes de como actuar perante esta situação. Alguns pensavam que se deviam recusar a entregar o castelo ao Shogun, outros achavam que deviam planear uma acção de vingança e matar Kira, outros achavam que deviam respeitar a lei e render-se pacificamente. Oishi Kuranosuke, chefe conselheiro do Senhor Asano, depois de ouvir todas as opiniões transmitidas pelos samurais decidiu delinear um plano: Iria pedir ao Shogun o restabelecimento da "Casa de Asano" encabeçada pelo irmão mais novo do Senhor Asano, Daigaku. Caso esta petição falhasse os samurai de Lord Asano recusar-se-iam entregar o castelo e defendê-lo-iam até à morte. Nos dias que se seguiram, enquanto os agentes do Shogun se encaminhavam para Ako todos os samurai que se oponham à petição foram saindo do castelo, deixando apenas 60 samurais fiéis ao Senhor Asano. Mesmo antes que qualquer dos emissários do Shogun chegasse ao castelo, Daigaku Asano enviou uma mensagem a Oishi pedindo-lhe que obedecesse às ordens do Shogun e entregasse o castelo. Oishi e os restantes 59 samurai aceitaram o pedido de Daiguku, mas antes de entregarem o castelo decidiram arquitectar um plano de modo a restaurar a honra de seu mestre Senhor Asano matando Kira, cujo carácter pouco tinha a ver com os samurai e que tanta desonra trouxe à família do Senhor Asano. Apenas a sua morte reporia de novo a honra ao Senhor Asano e a sua família.
Deste modo separaram-se de forma a conceber e levar a cabo o seu plano. Naturalmente que Kira suspeitava que os samurai de Asano tentassem vingar-se dele. Para afastar qualquer tipo de suspeita Oishi retirou-se para Yamashima, subúrbio de Kyoto, onde foi ganhando a reputação de jogador e bêbedo, o que fez diminuir a guarda por parte do Shogun, bem como os espiões de Kira. O Shogun por sua vez e ainda com receio de que a questão da morte do Senhor Asano não tivesse sido resolvida ordenou a prisão de Daigaku Asano e sentenciou-o a permanecer confinado bem como a sua família a uma pequena província, acabando assim, com alguma esperança que pudesse haver quanto ao restabelecimento da "Casa de Asano".
Durante cerca de dois anos eles esperaram pacientemente, disfarçados de comerciantes, de vendedores de rua e até de bêbedos, procurando obter informações sobre Kira e estando atentos aos movimentos dos seus homens (de Kira) por forma a encontrar uma oportunidade para tomar de assalto a sua mansão. Até que finalmente Kira relaxou, diminuindo a sua desconfiança e a sua guarda a Oishi e seus companheiros. Numa reunião secreta Oishi e os outros 59 Ronin decidiram que o tempo deles era chegado e que eles deveriam devolver a honra a seu mestre. Oishi decidiu levar consigo apenas 46 dos 59 Ronin, enviando os outros 13 para junto das suas famílias. Um por um Oishi e os seus homens infiltraram-se em Edo, e a 14 de Dezembro de 1702 noite de Inverno com muita neve os 47 Ronin atacaram o castelo de Kira enquanto ele dava uma festa do chá. Os 47 Ronin divididos em dois grupos atacaram a mansão pela entrada principal e pelas traseiras. Nessa batalha os 47 Ronin lutaram contra 61 guardas armados matando ou capturando todos os guardas de Kira sem nenhuma perda ao fim de apenas hora e meia de batalha. Depois de uma busca minuciosa pelo castelo, Kira foi encontrado escondido na casa exterior a casa principal. Oishi trouxe Kira para o átrio principal e a frente dos outros 46 Ronin deu-lhe a mesma oportunidade que foi dada ao Senhor Asano: morrer honradamente cometendo seppuku. Kira não queria cometer seppuku pelo que o Ronin o decapitou. Depois, para simbolizar a conclusão da sua missão, os 47 Ronin regressaram ao local onde tinha sido sepultado o seu Senhor no templo Sengaku-Ji e colocaram lá a cabeça de Kira, declarando assim ter redimido a honra de Lord Asano. Preparados para morrer, Oishi enviou um mensageiro ao magistrado de Edo, informando o sucedido e informando que iriam ficar à espera no templo Sengaku-Ji, pelas ordens do Shogun. O Shogun Tsunayoshi , em vez de ficar profundamente encolerizado com o acontecimento, ficou muito impressionado com a enorme lealdade demonstrada pelos 47 Ronin.
Este facto tornou a decisão de Tsunayoshi ainda mais difícil: Deveria ele apenas separar os 47 Ronin como reconhecimento pela sua enorme demonstração de lealdade para com o Bushido ou deveria ele puni-los de acordo com a lei?
Depois de 47 dias de reflexão, Tsunayoshi ordenou que Oishi e 45 dos Ronin se matassem, não como meros criminosos mas como honrados guerreiros, sendo o mais novo dos Ronin que havia sido enviado a Ako com a notícia da morte de Kira poupado a esta sentença.
A 4 de Fevereiro de 1703 os 46 Ronin foram divididos em quatro grupos e entregues a 4 diferentes daimyo, que tinham por sua vez recebido instruções para supervisionar e testemunhar as suas mortes. Oishi e os outros 45 Ronin cometeram seppuku simultaneamente, dignificando-se e valorizando o seu valente sacrifício. No final, os 46 Ronin foram enterrados lado a lado com seu mestre no templo Sengaku-Ji. Hoje em dia, a memória dos 47 Ronin é celebrada numa peça chamada Chusingura que leva as audiências as lágrimas. Adicionalmente, cada ano vários milhares de Japoneses visita o local onde estão enterrados os corpos dos 46 Ronin no Templo Sengaku-Ji para prestar homenagem à honra e lealdade dos 47 Ronin e a sua dedicação ao código do Bushido.

1 comentário:

Rog disse...

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