domingo, 20 de setembro de 2009

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo


No ano 1118, Jerusalém era um território cristão e nove monges veteranos da primeira Cruzada, entre os quais se encontravam, Hugo de Payens, Cavaleiro de Burgúndia e Godofredo de Saint Omer, dirigiram-se ao rei de Jerusalém, Balduíno II e anunciaram a intenção de fundar uma ordem de monges guerreiros (a qual viria a ser fundada a 12 de Junho de 1118).
O propósito para a existência da Ordem era salvaguardar dentro das suas possibilidades, os peregrinos que se deslocavam da Europa para os territórios cristãos do Oriente, encarregando-se da sua segurança. Ao ingressarem na Ordem todos os membros fizeram votos de pobreza pessoais, obediência e castidade passando o seu símbolo a ser representado por um cavalo montado por dois cavaleiros (alusão a pobreza da Ordem).
Os denominados Pobres Cavaleiros de Cristo tiveram autorização para se instalarem numa parte do palácio que foi cedida por Balduíno II, lugar que outrora havia sido o Templo de Salomão, em Jerusalém, daí ficarem conhecidos como "Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão", Cavaleiros do Templo ou Cavaleiros Templários graças ao local da sua sede, do voto de pobreza e da fé em Cristo.
São Bernardo de Clairvaux, fundador da Ordem de Cister, foi o patrono dos Templários, pois ao necessitar da Ordem enviou uma carta a Hugo de Payens pedindo a cooperação para reabilitar os "ladrões, sacrílegos, assassinos, perjuros e adúlteros", porém que estivessem dispostos a alistar-se nas fileiras das Cruzadas para libertação da Terra Santa.
Encorajado, desta forma, por um dos mais influentes personagens de sua época, Hugo de Payens, partiu para o Concílio de Troyes, em 1127 sob o patrocínio e protecção de S. Bernardo apresentando a Regra escrita por este último e que era pertença da irmandade, a qual seguia até determinado ponto a Regra da Ordem Cistercense. O Papa Honório II autorizou a condição de Ordem, concedendo um hábito branco com uma cruz vermelha no peito mas a carta constitutiva da Ordem, que a estabeleceria definitivamente, só lhe foi outorgada em 1163 pelo Papa Alexandre III.
A sua divisa foi extraída do Livro dos Salmos: "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam" (Salmo 115,1) que significa "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória".
A Ordem desenvolveu uma estrutura básica e organizou-se numa hierarquia composta desde sacerdotes até soldados. No seu período áureo, foi constituída por vários graus hierárquicos, sendo o seu “patamar” mais importante o dos Cavaleiros, pela sua vertente militar.
Na sua recepção, os Cavaleiros juravam observar os três preceitos da Ordem, a pobreza, a castidade e a obediência, tal qual os membros das demais Ordens da Igreja. Em geral os Cavaleiros eram descendentes de personalidades de alta estirpe, tinham por direito, três cavalos, um escudeiro e duas tendas.
Na Ordem também eram aceites homens casados, mas tinham como condição legar à Ordem metade das suas propriedades, não se admitiam em quaisquer circunstâncias mulheres. Hierarquicamente a seguir aos Cavaleiros vinha um corpo de Clérigos, incluindo Bispos, Padres e Diáconos, sujeitos aos mesmos votos dos Cavaleiros, e que por especial dispensa não rendiam obediência a nenhum superior eclesiástico ou civil, a não ser o Grão-Mestre do Templo e ao Papa. Instituiu-se que as confissões dos irmãos da Ordem deviam ser ouvidas somente por clérigos especiais, e assim permaneciam invioláveis os seus segredos. Também havia duas classes de Irmãos Servidores, os criados e os artífices. A hierarquia administrativa da Ordem era formada pelo Grão-Mestre, o Senescal do Templo, o Marechal como autoridade suprema em assuntos militares, e os Comendadores sob cuja direcção estavam as Províncias.

Hierarquia da Ordem

Grão-Mestre: Era o Comandante supremo da ordem tanto em assuntos diplomáticos como em assuntos militares. Só respondia perante a autoridade papal;

Couvenant: Assembleia plenária de todos os membros quando se trata de ir combater ou assistir a solenidades religiosas; mas é naturalmente uma assembleia restrita (elitista) para os membros mais próximos do topo hierárquico da Ordem quando se trata de discutir questões de total importância;

Senescal: Conselheiro e diplomático, este substitui o grão-mestre aquando da sua ausência;

Marechal: Chefe encarregado das acções militares, era o comandante do exército templário;

Chefe do Reino de Jerusalém: Encarregado do reino de Jerusalém nos assuntos da Ordem era na sua essência um comandante militar;

Chefe da cidade de Jerusalém: Encarregado da cidade de Jerusalém era um comandante com deveres diplomáticos (responsável pela diplomacia com o rei de Jerusalém), responsável pelos templários dentro da cidade (respondia por estes);

Chefe de Tripoli e de Antioquia: Encarregado de Tripoli e de Antioquia nos assuntos da Ordem era na sua essência um comandante militar e acumulava também funções diplomáticas;

Chefes das Províncias Europeias: Encarregados das Províncias Europeias nos assuntos da Ordem eram na sua essência comandantes militares e acumulavam também funções diplomáticas;

Comandantes: Preceptores das províncias principais Europeias ou do Outremer;

Mestres: Encarregados da Ordem nalguns reinos na esfera militar e diplomática. Na hierarquia respondiam ao Preceptor/Comandante nos assuntos (recrutamento, necessidade de tropas, logística da Ordem) internos;
Drapier: estavam encarregues das roupas dos Templários;

Chefe da casa: Encarregado das diferentes casas (comendas, castelos, terras, fortalezas), respondia perante o Mestre e o Preceptor;

Chefe dos cavaleiros: Encarregado do treino e observância dos Irmãos cavaleiros e Sargento do Mosteiro (muitas vezes este chefe já teria servido no Outremer);

Irmãos cavaleiros e Sargento do Mosteiro: Estes eram o núcleo da Ordem, os que usavam a túnica branca com a cruz vermelha. Cada um equipado com os três cavalos e armas. O sargento era muitas vezes (apesar de hierarquicamente estar ao mesmo nível dos Irmãos cavaleiros) um cavaleiro impossibilitado de combater ou por doença, feridas de guerra, ou porque aquando do seu ingresso na Ordem foi destacado para esse lugar;

Turcoplier: Comandante dos Irmãos/Sargento aquando da batalha;

Sub/marechal (um Sargento): Responsável pelo aprovisionamento das tropas e seus equipamentos;

Portador padrão: Portador do Beu-Sant era um dos Irmãos cavaleiros que o carregava e estava impedido de o usar como arma, deixá-lo cair para salvar a sua vida ou baixá-lo de modo a não ser um alvo;
Irmão/Sargento: Estes irmãos não necessitavam de uma ascendência nobre usavam a túnica castanha e lutavam a pé com as armas típicas de qualquer infantaria, o que os distinguia de qualquer infantaria normal era a sua cor castanha com a cruz de lado;

Irmãos Rurais ("Fréres Casalieres"): Viviam nas comendas e trabalhavam a terra;

Irmão Assistente de Doentes ("Fréres Infermiers"): Irmão encarregado dos doentes, era uma espécie de supervisor e médico da saúde dos outros irmãos na Ordem;

Turcopolos: Tropas locais do Outremer, eram forças mercenárias ou mesmo ofertas de senhores locais para apoio e defesa.

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Por esta altura, a Ordem já não era constituída apenas por religiosos mas principalmente por burgueses, o que levava a que os Templários se sustentassem através de uma imensa fortuna que provinha de doações dos vários reinos. Durante um período de quase dois séculos, a Ordem foi a maior organização Militar/Religiosa do mundo, as suas actividades já não estavam restritas aos objectivos iniciais, os soldados templários recebiam treino bélico, combatiam ao lado dos cruzados na Terra Santa, conquistavam terras, administravam povoados, extraíam minério, construíam castelos, catedrais, moinhos, alojamentos e oficinas, fiscalizavam o cumprimento das leis, intervinham na política europeia, além de se aprimorarem no conhecimento da medicina, astronomia e matemática. Houve até mesmo a criação de um sistema semelhante ao dos bancos monetários actuais, os peregrinos ao iniciarem a viagem para a Terra Santa, trocavam o seu dinheiro por uma carta de crédito nominal que lhe dava o direito a ser restituído do seu dinheiro em qualquer posto templário, estando desta forma os seus bens seguros da acção de saqueadores. O poder dos Templários tornou-se maior que a Monarquia e a Igreja.
Só que as várias derrotas das Cruzadas no século XIII, comprometeram a actividade principal dos Templários, e a existência de uma Ordem Militar com tais objectivos já não era necessária. Depois da tomada de Jerusalém pelos Muçulmanos em 1291, adveio a queda do Reino Latino, o quartel-general da Ordem foi transferido da Cidade Santa para Chipre, e Paris passou à categoria de seu principal centro na Europa. É certo que esta derrota das Cruzadas, em que o túmulo de Cristo caiu nas mãos dos "infiéis", abalou a posição dos Templários, como das demais Ordens Militares, mas ninguém poderia prever o seu fim brusco e trágico. Conservando-se ainda poderosamente rica, credora do Papa e da corte da França, as suas posses passaram a ser avidamente cobiçadas.
Neste mesmo período, o Rei Felipe IV, O Belo, detentor dos destinos de França era um monarca sui generis, bastante diferente da maioria dos outros que se subjugavam à Igreja. Felipe instrumentalizava tudo e todos ao seu redor e arrolava-se em campanhas aliadas ao Clérigo, em troca de benefícios políticos, contudo a sua situação não era a melhor apresentando-se num “quadro” bastante difícil e precário, uma vez que devia terras e imensas somas em dinheiro, sendo os seus principais credores, os Templários. Assim, Felipe IV, necessitava urgentemente de dinheiro e após ter confiscado os haveres dos banqueiros lombardos e judeus e os ter expulso do país, voltou a sua cobiça para o “assunto” dos Templários.
Nesta situação imaginou um golpe astucioso, horrível e tenebroso propondo ao arcebispo, Beltrão de Got, uma troca de favores, isto é, o monarca usaria a sua influência para que o religioso se tornasse Papa e este por sua vez, comprometer-se-ia a exterminar a Ordem dos Templários assim que alcançasse o papado (uma vez que apenas um Papa possuía poder político para fazê-lo).
No ano de 1305, Beltrão de Got é eleito em Concilio para o Trono de São Pedro tomando como nome, Clemente V. Era chegada a altura de retribuir o favor da sua posição em Avinhão graças às intrigas do rei e assim, o Papa Clemente V, deu a sua aquiescência ao plano de Filipe IV, dando imediatamente início a perseguição da Ordem dos Templários levantado acusações contra os cavaleiros e perseguindo-os implacavelmente por toda a Europa. Para auxiliar na macabra tarefa de descredibilização surgiu um ex-Cavaleiro da Ordem, Esquieu de Floyran, o qual, pessoalmente interessado na desmoralização da mesma, levantou as mais duvidosas acusações, tais como heresia, idolatria, homossexualismo e conspiração com infiéis. Essas acusações foram sofregamente aceites por Felipe IV, que, numa sexta-feira, 13 de Outubro de 1307, mandou prender todos os Templários da França e o seu Grão-Mestre, Jacques DeMolay, os quais, submetidos à Inquisição, foram por acusados de hereges. Por meio de inomináveis torturas físicas, infligidas a ferro e fogo, foram arrancadas desses infelizes as mais, contraditórias confissões.
Em Portugal, o rei D. Dinis não aceitou as acusações e funda a Ordem de Cristo para a qual passam alguns Templários. Na Inglaterra, o rei Eduardo II, que não concordara com as acções de seu sogro Felipe, ordena uma investigação cujo resultado proclama a inocência da Ordem, levando a que quer na Inglaterra, na Escócia e na Irlanda os Templários se distribuíssem pela Ordem dos Hospitalários, pelos mosteiros e abadias. Em Espanha, o Concílio de Salamanca, declara unanimemente que os acusados são inocentes. Na Alemanha, Itália e Suíça, os Cavaleiros foram declarados inocentes ficando em liberdade mas a Ordem foi suprimida.
O Papa, desejoso de aniquilar a Ordem, convocou um concílio em Viena, em 1311, com esse fim, mas os Bispos presentes recusaram-se a condená-la à revelia, o que provocou consequentemente nova acção de Clemente V convocando um consistório privado a 22 de Novembro de 1312, abolindo a Ordem, embora admitindo a falta de provas das acusações.
As riquezas da Ordem foram confiscadas em benefício da Ordem de São João, porém foi clara a enorme soma dada da parcela francesa para os cofres do rei da França, Felipe, o Belo.
A tragédia atingiu seu ponto culminante em 18 de Março de 1314, quando o Grão-Mestre do Templo, Jacques DeMolay, e Godofredo de Charney, preceptor da Normandia, foram publicamente queimados no pelourinho diante da catedral de Notre Dame, ante a turba, como hereges impenitentes.
Diz-se segundo a lenda, que agonizante no meio das chamas, o Grão-Mestre dos Templários ao ser envolto e devorado na pira, voltou a cabeça em direcção do local onde se encontrava o rei e imprecou: "Papa Clemente, cavaleiro Guilherme de Nogaret, Rei Felipe... Convoco-os ao Tribunal dos Céus antes que termine o ano, para recebam vosso justo castigo. Malditos... Malditos... Malditos... Sereis malditos até treze gerações...", e terminou dizendo que se os Templários tivessem sido injustamente condenados, o Papa morreria no máximo em 40 dias e o Rei dentro de um ano. O Papa morreu 33 dias após a execução de DeMolay e o Rei em pouco mais de 6 meses.
Em toda a Europa, a Ordem dos Templários foi oficialmente extinta, os seus bens, o seu imenso contingente como exército e a sua estrutura foram diluídos noutras Ordens menos expressivas, actualmente, a Ordem Rosa Cruz e a Maçonaria consideram-se herdeiros directos dos Cavaleiros Templários.
No entanto, a destruição da Ordem não acarretou a supressão completa dos seus ensinamentos mais profundos e a sua mística permaneceu viva através dos seis séculos e meio às fogueiras de Notre Dame, e palpita indubitavelmente no corpo e no espírito da Maçonaria e da Ordem DeMolay.

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