sábado, 26 de setembro de 2009

Mitologia - Heróis *Jasão e os Argonautas*

"Jasão entrega o tosão de ouro a Pélias"

A lenda é provavelmente mais antiga do que a Ilíada e a Odisseia, mas chega até nós através do poema épico muito posterior, “Argonáutica” do alexandrino Apolônio de Rodes. Esão, filho e sucessor do rei Creteu, foi despojado do trono pelo seu meio irmão Pélias, filho de Tiro e Poseidon, tendo Jasão, filho de Esão sido enviado para a Tessália com intuito de ser educado pelo centauro Quirón e de se manter longe do trono. Contudo, Jasão (A palavra está ligada etimologicamente ao conceito de cura), ao completar vinte anos, decidiu reivindicar o poder que por direito lhe pertencia. Noutra versão, Pélias recebeu interinamente o poder de Esão até que Jasão se tornasse adulto. De qualquer forma, ao completar a maioridade, o herói decidiu retornar a Iolco e quando lá chegou encontrou a cidade em festa.
O rei ao vê-lo, embora não o reconhecesse, suspeitou do estrangeiro ao lembrar-se do oráculo que lhe havia predito sobre a ameaça vinda de um homem de apenas uma sandália. Jasão assim se apresentava, pois havia perdido uma das suas sandálias durante a viagem, ao atravessar um rio de forte corrente. Apavorado com a previsão do oráculo e já ciente das intenções do sobrinho, resolveu eliminar o inimigo.
Para tanto, incumbiu, Jasão de capturar em longínquas terras o Velocino (tosão) de Ouro, pois sabia que tal provação tinha em si encerrada um alto grau de periculosidade, era um empreendimento que praticamente significava uma condenação à morte, mas Jasão, herói por excelência, não se deteve e partiu, chefiando outros heróis numa grandiosa nau, denominada Argos, denominando-se assim por Argonautas.
Os Argonautas eram em número aproximado de cinquenta, e, apesar das fontes diferirem no que concerne os seus nomes, os principais personagens estão claros: O rol incluía o próprio Jasão, bem como Argo, construtor do navio de mesmo nome; Tífis, o timoneiro; Orfeu, o músico; Zeto e Calais, filhos do Vento Norte; os irmãos de Helena, Cástor e Pólux; Peleu, pai de Aquiles; Meléagro da Caledônia, famoso caçador de javalis; Laerte e Autólico, pai e avô de Ulisses; Admeto, que mais tarde deixaria sua esposa morrer em seu lugar; Anfiarau, o profeta e ainda na primeira parte da jornada, o próprio Hércules; ao lado deste desfile de nomes famosos, havia uma hoste de muitos outros heróis.
O navio, o Argo, cujo nome significa "Rápido", foi construído no porto de Pagasse na Tessália e era feito quase na sua totalidade por madeira do Monte Pélion, sendo a sua excepção a proa, a qual era uma parte de um carvalho sagrado trazido pela deusa Atena do santuário de Zeus em Dodona. Diz-se que esta peça de carvalho era profética podendo falar em determinadas ocasiões. O Argo era o mais veloz navio até então construído e zarpou com augúrios favoráveis rumo a norte, em direcção ao Mar Negro.
Na sua jornada para Cólquida, a sua tripulação encontrou-se perante inúmeras aventuras, em Mísia perderam Aquiles, outro membro da tripulação, um belo jovem chamado Hilas foi à procura de água fresca para uma festa, não voltando mais ao navio (As ninfas da fonte que ele tinha encontrado fizeram com que se apaixona-se pela sua beleza, sequestraram-no e afogaram-no), mesmo assim Hércules recusou-se a interromper a procura, levando o Argo a partir sem ele. Na margem grega do Bósforo, os Argonautas, encontraram Fineu, um visionário cego e filho de Poseidon, amaldiçoado pelos deuses de forma terrível (Sempre que se sentava para comer, era visitado por uma praga de Harpias (terríveis criaturas, parte mulher e parte ave), que pegavam parte do alimento com seus bicos e garras e estragavam o restante com seu excremento). Os Argonautas foram então em auxílio de Fineu e armaram uma armadilha a estes monstros, convidaram-no a partilhar a sua mesa e quando as Harpias surgiram os filhos alados do Vento Norte sacaram das suas espadas perseguiram-nas até que exaustas prometeram desistir de perseguir Fineu.
Em forma de agradecimento, Fineu, revelou-lhes, então, tudo o que vislumbrava relativamente à viagem que eles tinham encetado: o principal perigo que iriam enfrentar seriam as rochas movediças e a solução para este problema residia no seguinte: quando lá chegassem deveriam enviar em primeiro lugar uma pomba, e caso esta encontrasse a passagem entre as rochas, então o Argo também conseguiria fazer a travessia, mas se a pomba falhasse, deveriam desviar o barco, pois a missão estaria condenada ao fracasso. E, assim foi, quando lá chegaram enviaram a pomba a qual conseguiu passar a salvo pelas rochas, deixando apenas sua pena mais longa da cauda nas rochas, desta forma, o Argo, também atravessou o estreito canal, sofrendo apenas leves estragos nas amuradas da popa, sem outras aventuras significativas os Argonautas chegaram a salvo a Cólquida.
Quando Jasão explicou a razão de sua vinda, o rei Eestes estipulou que antes que pudesse remover o Velocino de Ouro, deveria superar algumas provas, as quais consistiam em atrelar dois touros de cascos de bronze e que respiravam fogo (presente do deus Hefesto), a um arado e de seguida deveria semear alguns dentes do dragão que Cadmo tinha morto em Tebas (Atena tinha dado estes dentes a Eestes), quando homens armados surgissem da sementeira, devia destruí-los. Jasão viu-se na obrigação de concordar com todas estas condições, mas teve a sorte de contar com a ajuda da filha do rei, Medeia, que era feiticeira. Medeia, porém, fez Jasão prometer de antemão caso superasse as provações a levaria para Iolco como sua esposa ao que este aquiesceu.
Ela deu-lhe então uma poção mágica para ungir o seu corpo e polir o seu escudo de forma a torna-lo invulnerável a qualquer ataque, fosse ele realizado quer com fogo ou quer com ferro. Após ter atrelado os touros e semeado os dentes de dragão e se preparava para defrontar os homens armados após a safra, Medeia, orientou-o e explicou-lhe que deveria atirar pedras para o meio deles, de forma a que se atacassem entre si e não a ele, acabando assim armado e orientado por ser foi bem sucedido na globalidade das tarefas. Eestes, de alguma forma surpreso pelas façanhas do seu hóspede, continuava relutante em entregar o tosão, e tentou mesmo atear fogo ao Argo e matar a tripulação, só que o desenrolar da história deu-se de outra forma pois Medeia tinha dado um soporífero a serpente guardiã e Jasão pôde rapidamente remover o Velocino de Ouro do bosque sagrado, e juntamente com os restantes dos Argonautas partir silenciosamente para o alto mar.
Quando Eestes se apercebeu da ausência tanto da sua filha como do Velocino, efectuou uma perseguição noutro barco, mas mesmo isto tinha sido previsto por Medeia, que tendo trazido consigo o seu jovem irmão, Absirto, o sacrificou e cortou em pequenos pedaços, os quais atirou ao mar. Tal como tinha antecipado, Eestes parou para recolher os inúmeros pedaços e o Argo ganhou distância mas acabou por se desviar da rota porque Zeus , revoltado com a natureza do crime praticado por Medeia, enviou uma tempestade que atingiu a embarcação.
Havia necessidade de se purificar de tão hediondo crime e por isso atracaram no reino de Circe, feiticeira que através das suas magias e encantamentos os purificou, aplacando a ira do grande deus. Contudo, quando chegaram ao reino dos Feaces na ilha de Corcira, os argonautas depararam-se com uma situação bastante desfavorável, Eetes, inconformado com a morte do filho e com a fuga da princesa, enviou uma nau encarregada de trazer de volta a princesa e os seus súbditos pressionavam o rei Alcino para que este lhes entregasse a princesa logo que o Argo ancorasse no seu reino. Arete, a rainha, sabendo das intenções do marido e de devolver Medeia caso ela fosse virgem, providenciou o casamento dos jovens às escondidas.
A rota da jornada de volta do Argo tem desconcertado muitos estudiosos, pois ao invés de retornar através do Helesponto, Jasão deixou o Mar Negro através do Danúbio, o qual miraculosamente lhe permitiu emergir no Adriático, mesmo assim e não satisfeito com esta realização, o Argo continuou a velejar subindo o rio Pó e o Reno, antes de encontrar a sua rota mais familiar nas águas do Mediterrâneo, sem esquecer que em qualquer paragem que fizessem, os Argonautas, defrontavam-se com as mais fantásticas aventuras.
Em Creta, por exemplo, encontraram o gigante de bronze Talo, uma criatura feita por Hefesto para actuar como uma espécie de sistema mecânico de defesa costeira para Minos, rei de Creta. Talo deveria caminhar a volta de Creta três vezes por dia, mantendo os navios afastados, sendo isto feito com a remoção de pedaços de penhascos os quais eram arremessados a qualquer navio que tentasse se aproximar sem autorização. Talo era invulnerável, exceptuando uma veia no seu pé, que caso fosse danificada a sua força vital acabaria por se exaurir. Uma vez mais Medeia foi crucial, pois conseguiu drogá-lo para que Talo ficasse insano e se atirasse contra as rochas o que se acabou por se saldar no dano irreversível da referida veia e a causa da sua morte.
Quando Jasão finalmente retornou a Iolco, casou-se com Medeia e dirigiu-se a Pélias, que ao ver chegar o chefe dos Argonautas com o Velocino de Ouro, se recusou a honrar sua palavra e lhe devolver o trono. Encolerizado, Jasão clamava por vingança, porque além de lhe negar o poder sobre Iolco, o rei, tinha-se aproveitando da sua ausência e induzido os seus pais ao suicídio, tendo em seguida assassinado o seu irmão Promaco. Mais uma vez, Medeia, veio em seu auxílio e para vingá-lo, fez com que as filhas do rei acreditassem ser possível devolver a juventude de seu velho pai Pélias (demonstrando os seus poderes de rejuvenescimento misturando várias substâncias num caldeirão com água a ferver, matou e picou um velho carneiro, atirando-o para o caldeirão, do qual emergiu imediatamente um jovem carneiro. Entusiasmadas e com a melhor das intenções, as filhas de Pélias apressaram-se em cortá-lo em pedaços e jogá-lo no caldeirão, infelizmente para elas apenas conseguiram apressar seu fim). Considerados culpados de tão horrendo parricídio, Jasão e sua mulher foram banidos de Iolco e exilados em Corinto.
Jasão e Medeia viveram felizes por pelo menos dez anos e tiveram dois filhos. Porém, a gratidão é um crime imperdoável para os deuses e o herói esqueceu-se de tão importante preceito quando envergonhado de Medeia a repudiou para se casar com Creúsa, filha do rei de Corinto, Creonte. Humilhada e rejeitada pelo marido, Medeia conspirava vingança e simulando humildade, enviou um magnífico traje à rival que movida por extrema vaidade o vestiu. Imediatamente a princesa começou a consumir-se em fogo, pois nem o tinha terminado de vestir, o vestido começou a arder em chamas. Creúsa gritava desesperada de dor e seu pai, apavorado, tentava inutilmente livrá-la da indumentária maldita, juntamente com o pai, Creúsa morreu queimada. Ainda não satisfeita, Medeia, assassinou seus filhos tidos com Jasão, fugindo à seguir para Atenas.
Existem muitas versões para o final de Jasão. Na primeira delas, o herói, desesperado suicida-se. Noutra, quando descansava sob a sombra de Argos, morre esmagado pela popa do próprio navio. Há ainda outra versão segundo a qual se alia a Peleu e assume enfim o poder em Iolco.

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