sábado, 11 de junho de 2011

Jogo da Semana: God Of War III

Com os estúdios Santa Monica e com a série God of War, os jogadores sabem de antemão duas coisas, que algo épico e fenomenal está a caminho. Todos nós sabemos como God of War nos surpreende e cativa, e mesmo mantendo a fórmula igual a si mesma, como uma constante, tal não parece preocupar quando as promessas são tons ainda mais épicos e os contornos ainda mais brutais. Depois de espalhar o terror na anterior geração, Kratos está agora pronto para desencadear a conclusão desta trilogia e a sua vingança contra os deuses do Olimpo.
God of War é uma das séries de maior renome na casa PlayStation e representa potencialmente o maior e mais esperado regresso que esta sua nova geração propôs até à data. Maioritariamente envolta em novos IP’s, é com God of War III que a Sony oferece o regresso de uma das figuras mais icónicas. A expectativa é apenas equiparável à responsabilidade da equipa que prometeu um título tão intenso e agressivo quanto o espírito da série. O patrocínio das ferramentas de nova geração é uma das grandes novidades ao serviço de todos os fãs, que já não conseguem conter toda a sua vontade de vingança. Peito cheio de motivação, com sangue e ódio nos olhos, eis chegada a hora de dar início a uma jornada memorável.

God of War III vem dar continuação directa à história dos anteriores e tem início imediatamente após o final do segundo capítulo. Farto da tirania dos deuses do Olimpo que o tratam como uma marioneta, Kratos recruta os titãs para o confronto final que tem início com a escalada desse mesmo monte. O espartano não tem quaisquer intenções de parar, e na busca de vingança contra o pai dá início a uma corrente de eventos épicos. O uso da mitologia Grega como base para todo o enredo e ambiente da série sempre foi um dos seus factores mais brilhantes, moldado com bastante engenho. Neste terceiro capítulo, os fãs podem contar com este talento a um grande nível que nada fará para os desiludir. As personagens que surgem durante o decorrer da aventura e os locais pelos quais passámos, são de enorme requinte para os que se apaixonaram pela característica que tanto ajudou God of War a conquistar uma personalidade distinta para si. Claro que nada vamos contar sobre o embate final que aqui decorre, pois não queremos estragar a experiência aos que desesperam por a conhecer.
Mais momentos marcantes estão à nossa espera.

O jogo a começa imediatamente após o segundo título, o pano está criado e é uma escalada/ataque directa sem quaisquer dissimulações. A hora dos mistérios e das artimanhas já passou, agora é guerra. Como tal, o início do jogo não poderia ser de outra forma, frenético e intenso, mas por muito que se preparem para o que aí vem, nada vos preparou para isto.
O início de God of War III é simplesmente um magnífico momento, e posso mesmo dizer que experimentei um dos melhores quarenta minutos iniciais que vi alguma vez num jogo. O ritmo é tão intenso quanto a motivação de Kratos, o jogador sente mesmo que algo de épico está a decorrer, e que algo ainda mais épico se prepara para acontecer. O desenrolar nada faz para demover as expectativas de quem joga e cedo se percebe que God of War III é um daqueles casos muito raros no qual não existem momentos menos bons. Passada a fúria dos momentos iniciais, God of War assume-se como aquilo que só podia ser, uma experiência que todos conhecemos mas mais grandiosa e mais desafiante.
Sendo o mais recente numa série tão acarinhada e com uma base de fãs tão grande, não é de estranhar que pouco tenha sido feito para afastar o jogo dos suportes que lhe deram fundação. Isto quer dizer que temos de volta o conhecido jogo de acção e aventura que no entanto não se faz rogado em colocar a sua familiaridade a seu favor. Se para uns a quase obrigatoriedade de usar o factor familiaridade seria uma comodidade, em God of War III percebe-se que é um desafio, pois obrigou a que mais fosse feito noutros pontos. A escala inicial apenas serve como um aperitivo para aguçar o apetite do jogador, e tal como nos anteriores, os grandes poderes de Kratos são-lhe retirados e o jogador começa a sua jornada visitando locais familiares para um último ajuste de contas.
Como referido, é no sistema de combate que God of War III mais familiar permanece, mas no entanto, algumas novidades, refinamentos e minuciosos detalhes conseguem manter tudo atractivo e tão bom quanto sempre foi. Kratos vai adquirindo novas armas que lhe permitem combater as criaturas que lhe fazem oposição. Tal como nos anteriores, o jogador pode alternar as combinações entre golpes normais e fortes, e consoante vamos ganhando novas armas, mais combinações podemos fazer pois alguns inimigos são mais facilmente derrotados com determinada arma.
Todas as armas principais e secundárias conquistadas por Kratos são feitas em sequências verdadeiramente épicas que certamente vão marcar quem as joga. As lutas contra os deuses são de tal forma brutais que é praticamente impossível não ficar espantado com o gore que o jogo consegue exibir. Após obtidas as armas, ganhamos acesso a novas áreas que nos dão mais um pequeno vislumbrar de mais uma pequena peça de uma enorme tapeçaria que descobrimos aos poucos.
Torna-se quase impossível não descrever os locais por onde passamos, pois toda a sua construção é altamente importante para explicar como a aventura desafia o jogador e como o mantém constantemente ansioso por continuar a jogar e a conhecer novos locais, estando deliciado com o local no qual se encontra. Especialmente quando pelo meio é forçado a enfrentar um dos inimigos de maior porte e outra das famosas características surge, os Quick Time Events. Quando necessário, o jogador tem a possibilidade de pressionar o botão correcto na altura devida para aplicar devastadores ataques que nos deixam estarrecidos a olhar para o ecrã com o pensamento de como algo tão visceral consegue ser tão espantoso. Na serventia das formas cinematográficas, a presença destes indicadores é mais subtil, e agora temos momentos de escala admirável devido ao motor de jogo que pelo meio alterna para perspectivas de belo efeito sem a momento algum retirar o controlo de Kratos ao jogador.
Falando no motor de jogo, se estavam preocupados com o desempenho registado na demonstração jogável disponível na PlayStation Store, podem colocar as vossas preocupações de lado. God of War III decorre de forma altamente suave e sem quaisquer problemas relacionados com a jogabilidade. Tudo é tão suave e fluído quanto os fãs desejam mas não pensem que nas cerca de 10 horas necessárias para terminar o jogo (dificuldade Normal) vão passar o tempo todo em combate. Em God of War III os puzzles estão de volta e alguns são como o monte que escalamos, gigantescos. Alguns são progressivos e de resolução a longo prazo, e até relacionados com as armas, mas a maioria é de efeito imediato como habitual. Este segundo elemento característico da série, surge de uma forma que consegue espantar pois é uma das formas mais surpreendentes de marcar o ritmo num jogo do género.
A perspectiva do épico ou o épico da perspectiva?

God of War III não é um jogo muito longo, como referido são precisas 10 horas na primeira vez que se joga com praticamente todos os itens coleccionados e quase todas as melhorias de personagem obtidas, mas a todo o momento sentimos conforto no jogar. O ritmo é fluído e constante (sem quaisquer ecrãs de carregamento ao longo da aventura), não existem áreas para “encher” e os puzzles oferecem um alto equilíbrio no peso entre a acção e aventura. Mesmo que nalguns seja preciso mais do que uma tentativa, o sistema de checkpoints é altamente competente de forma a que nem sequer se lembrem da palavra frustração. Isto é especialmente agradável quando estamos a ter dificuldade num qualquer boss mais teimoso. O trabalho aqui apresentado tem esse grande mérito de desafiar o jogador estando constantemente a incentivar com requintes de competência sem a momento algum se preocupar que a duração podia ser maior.
Para os que pretendem obter mais do jogo, para além do convite irrecusável a repetir a dose, God of War III emula os exemplos de outros no género entretanto lançados. Para além da existência de Troféus que vão mesmo apelar aos jogadores mais dedicados e adeptos de um bom desafio, o jogo também oferece tarefas adicionais ao jogador, e ainda a arena de combate. São uma espécie de salas de desafio nas quais somos convidados a por em prática a nossa destreza com vários parâmetros a respeitar. Desde restrições nas armas ou no tempo, ou até no tipo de inimigo, são desafios adicionais que servem para prolongar um pouco mais a jogabilidade mas não são algo que se possa considerar essencial.
Tecnicamente já todos esperavam nada menos do que um verdadeiro titã, e mesmo conseguindo tal com alguma mácula, God of War III senta-se confortavelmente ao lado do que de melhor se viu até à data na PlayStation 3 e nesta actual geração. Com alguma frequência os jogadores ficam na presença de texturas de baixa resolução que consoante a perspectiva e o local tem maior ou menor impacto na qualidade. No entanto, não deixamos de sentir que é uma pequeníssima contra-partida face aos verdadeiros talentos do jogo, a sensação de escala e o seu tom épico que a todo o momento se fazem sentir com extrema imponência. Os fãs já estão habituados a tal, o jogo de escala que a série sempre usou, mas aqui em God of War III é conseguida a verdadeira proeza de nos conseguir surpreender mesmo já sabendo com o que contar.
O uso das capacidades da consola é aplicado de forma exemplar e admirável desde o modelo de Kratos, que revela grande detalhe nas sequências pré-renderizadas com o motor de jogo e nos combates durante os quais o seu corpo fica coberto de sangue. Os titãs que escalam o monte Olimpo, os deuses contra quem lutamos e os cenários majestosos e arrebatadores frequentemente nos trouxeram a famosa e polémica expressão à cabeça: um quadro que ganha vida. Nos melhores momentos consegue mesmo ser assim tão bom que até a própria expressão de linhas sensacionalistas parece fazer de nós idiotas por duvidarmos. De forma curta, este é um jogo realmente admirável e estonteante no que diz respeito ao aspecto visual e direcção artística, especialmente graças às espantosas animações e ângulos de câmara que atestam a frenética imponência dos eventos.


Valores cinematográficos que são acompanhados pela componente sonora que é toda ela luxuosa. Para os interessados, God of War III apresenta-se completamente em Português (texto e falas) e sendo um esforço admirável e a aplaudir, a qualidade não consegue ser suficiente para nos fazer viver a experiência sem o trabalho original. De enorme qualidade e sem qualquer falha a apontar, o elenco original dá vida às personagens com toda a pompa que conhecemos e admirámos, algo com que o elenco competente Português nunca conseguiria competir.
Ao contrário dos anteriores e apreciados esforços, aqui não estamos perante novos IP’s onde conhecemos pela primeira vez personagens novas e que para muitos “nasceram” a falar Português. Aqui estamos perante Kratos, perante os titãs e perante os deuses do Olimpo que já nos falaram anteriormente e toda a sua qualidade é obviamente requisitada. A acompanhar temos toda uma banda sonora dentro dos padrões da série mas que se faz sentir com tanto poder que frequentemente me lembrou referências cinematográficas como “O Gladiador”. Este é um dos graciosos casos em que todas as componentes trabalham ao mesmo nível para que tudo caminhe na mesma direcção e em constante apoio.
Puzzles são simples e directos, mas bem implementados.

Sejam novatos ou veteranos no género, God of War III é um jogo que tem argumentos para cativar qualquer um. Os fãs estão perante um apelo surdo pois já sabem que esta é uma experiência obrigatória e se dúvidas permaneciam quanto ao fantástico início de ano que esta indústria está a viver, este é mais um exemplo a reforçar o actual bom momento. Todos os grandiosos momentos espalhados ao longo da aventura nos confirmam que estamos perante um candidato a melhor jogo do ano e a melhor jogo na consola. Se receios haviam de persistir sem grandes novidades, tudo se dissipa e até somos forçados a agradecer a oportunidade de estar na presença da fórmula alargada a esta escala. Tudo em God of War III, desde a jogabilidade ao visual, é fruto da experiência amealhada com os anteriores e apresenta versões aperfeiçoadas dessas funcionalidades sendo um trabalho obviamente dedicado aos fervorosos adeptos.
God of War III pode ser uma jornada com contornos familiares mas é tão épica e brutal quanto se poderia esperar, e ainda um pouco mais. É um fantástico jogo que diverte a cada minuto que passa, oferecendo um bom desafio e tudo o que os fãs alguma vez desejaram. Os tons já lhe são conhecidos e mais uma vez os estúdios da Santa Monica apresentam uma referência aconselhável a qualquer um que goste de videojogos. Raramente a expressão horas que passam como minutos pareceu tão adequada.
Bruno Galvão in EuroGamer

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