segunda-feira, 24 de maio de 2010

Em todas as ruas Te encontro



Em todas as ruas Te encontro
Em todas as ruas Te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a Tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a Tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que Te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço Teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

                       Mário Cesariny

1 comentário:

Anónimo disse...

"Onde menos te encontro é onde tu exististe. Desprendeste-te donde estiveste e é em mim que mais me acontece tu estares. Mas nem sempre. Quantos dias se passam sem tu apareceres. E às vezes penso é bom que assim seja, para eu aprender a estar só. Mas de outras vezes rompes-me pela vida dentro e eu quase sufoco da tua presença. Ouço-te dizer o meu nome e eu corro ao teu encontro e digo-te vai-te, vai-te embora. Por favor. E eu sinto-me logo tão infeliz. E digo-te não vás. Fica. Para sempre. Há em mim uma luta entre o desejo de que te esqueça e o de endoidecer contigo."

Vergílio Ferreira, in "Cartas a Sandra"

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