terça-feira, 16 de junho de 2009

A Armadura















Desenganos, traições, combates, sofrimentos,




Numa vida já longa acumulados, vão




— Como sobre um paul contínuos sedimentos,




Pouco a pouco envolvendo em cinza o coração.







E a cinza com o tempo atinge uma espessura




Que nem os mais cruéis desesperos abalam;




É como tenebrosa, impávida armadura




Ou couraça de bronze em que os golpes resvalam.







Impermeável da Inveja à peçonhenta bava,




Nela a Calúnia embota os seus dentes ervados;




Não há braço que possa amolgá-la, nem clava




Que nesse duro arnês se não faça em bocados.







E no entanto, através dessas rijas camadas,




Ou rompendo por entre as juntas da armadura,




Escorrem muita vez gotas ensanguentadas




Que o coração verteu dalguma chaga obscura...










António Feijó, in 'Sol de Inverno'

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Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier