Portugal combateu em dois Teatros de Operações e três Frentes de Guerra. Primeiro, e ainda durante a neutralidade, ou seja, logo em 1914, no Teatro de Operações Africano em duas frentes: Angola e Moçambique. Depois, com a entrada e a beligerância, isto é, após 1916, no Teatro de Operações Europeu, na frente ocidental da Flandres.
Assim e tendo deflagrado a Primeira Guerra Mundial em princípios de Agosto de 1914, Portugal só veio a participar oficialmente na mesma a partir de 1916. Entretanto nas fronteiras dos territórios portugueses de Angola e Moçambique, que confinavam, reapectivamente com as colónias alemãs do Sudoeste Africano e do Tanganica, verificaram-se alguns incidentes graves com a participação de forças militares dos dois países, como os de Naulila e Cuangar, no Sul de Angola, e o de Maziúa, a Norte de Moçambique, pouco depois de iniciada a guerra na Europa. Foram mobilizadas tropas para África que num esforço contínuo e muito meritório combateram os alemães, sendo esta força nos dois países de cerca de 34 600 soldados metropolitanos e 19 500 soldados das forças autóctones.
Em 1916 foi organizado um Corpo Expedicionário Português (CEP) sob o comando do General Tamagnini, destinado a combater em França. Em Fevereiro de 1917 as primeiras tropas portuguesas desembarcadas entravam em posição no sector de Thérouane, na Flandres. Em Novembro do mesmo ano um Corpo de Exército, constituído por duas Divisões, comandadas pelos Generais Gomes da Costa e Simas Machado, ficou integrado no I Exército Britânico, sob o comando do General Horne.
Numa primeira fase, as tropas do CEP foram desta forma colocadas junto do Exército Inglês, tendo de seguida e sem quaisquer responsabilidades de defesa passado progressivamente e por fracções à sua primeira experiência no quotidiano das trincheiras. Só quando todas as tropas tivessem passado por todas as fases de aprendizagem e adaptação é que o CEP estaria em condições de assumir inteiramente a responsabilidade do seu sector. Esta transição ocorreu entre Julho e Novembro de 1917.
E, foi assim, neste ambiente que de Fevereiro de 1917 à Primavera de 1918, se foi desenrolando entre bombardeamentos de artilharia e assaltos às linhas inimigas, a guerra de trincheiras para as tropas do CEP.
A Batalha de La Lys
A Batalha de La Lys deu-se entre 9 e 29 de Abril de 1918, no vale da ribeira da La Lys, sector de Ypres, na região da Flandres, na Bélgica.
Nesta batalha, que marcou a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, os exércitos alemães, provocaram uma estrondosa derrota às tropas portuguesas, constituindo a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
A frente de combate distribuía-se numa extensa linha de 55 quilómetros, entre as localidades de Gravelle e de Armentiéres, guarnecida pelo 11° Corpo Britânico, com cerca de 84.000 homens, entre os quais se compreendia a 2ª divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP) numa frente de aproximadamente 20 quilómetros, constituída por cerca de 20 000 homens, dos quais somente pouco mais de 15 000 estavam nas primeiras linhas, comandados pelo general Gomes da Costa. Esta linha viu-se impotente para sustentar o embate de oito divisões do 6º Exército Alemão, com cerca de 55 000 homens comandados pelo general Ferdinand von Quast (1850-1934). Essa ofensiva alemã, montada por Erich Ludendorff, ficou conhecida como ofensiva "Georgette" e visava a tomada de Calais e Boulogne-sur-Mer. As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, sofreram cerca de 1 341 mortos, 4 626 feridos, 1 932 desaparecidos e 7 740 prisioneiros, ou seja mais de um terço dos efectivos, entre os quais 327 oficiais.
Entre as diversas razões para esta derrota tão evidente, têm sido citadas, por diversos historiadores, as seguintes:
A revolução ocorrida no mês de Dezembro de 1917, em Lisboa, que colocou na Presidência da República o Major Doutor Sidónio Pais, o qual alterou profundamente a política de beligerância prosseguida antes pelo Partido Democrático;
A chamada a Lisboa, por ordem de Sidónio Pais, de muitos oficiais com experiência de guerra ou por razões de perseguição política ou de favor político;
Devido à falta de barcos, as tropas portuguesas não foram rendidas pelas inglesas, o que provocou um grande desânimo nos soldados. Além disso, alguns oficiais, com maior poder económico e de influência, conseguiram regressar a Portugal, mas não voltaram para ocupar os seus postos;
O moral do exército era tão baixo que houve insubordinações, deserção e suicídios;
O armamento alemão era muito melhor em qualidade e quantidade do que o usado pelas tropas portuguesas o qual, no entanto, era igual ao das tropas britânicas;
O ataque alemão deu-se no dia em que as tropas lusas tinham recebido ordens para, finalmente, serem deslocadas para posições mais à rectaguarda;
As tropas britânicas recuaram nas suas posições, deixando expostos os flancos do CEP, facilitando o seu envolvimento e aniquilação.
O resultado da batalha já era esperado por oficiais responsáveis dentro do CEP, Gomes da Costa e Sinel de Cordes, que por diversas vezes tinham comunicado ao governo português o estado calamitoso das tropas.
Para Portugal foi a grande derrota. Depois da Batalha tudo seri diferente tanto no ponto de vista militar como do ponto de vista político. No campo militar, com as forças que restavam do CEP destroçado, formaram-se ainda três Batalhões de Infantaria que integrados no Exército Inglês combateram nas linhas da frente até à assinatura do Armistício. No plano político , porém, as consequências foram pesadas.. Na festa da vitória, Portugal desfilou ao lado dos Aliados, sob o Arco do Triunfo, mas na Conferência de Paz, os objectivos de guerra ficaram aquém do desejado.