quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Guerra


Poema da Terra Adubada

Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.


António Gedeão, in "Linhas de Força"

3 comentários:

Anónimo disse...

Si vis pacem, para bellum, diziam os romanos. Se queres a paz, prepara-te para a guerra. Mas é um círculo vicioso de que o homem se não deu ainda conta. Ou seja, um moto-contínuo. Porque só na paz se pode preparar a guerra. Mas só se prepara a guerra para guerrear e conseguir a paz. Mas para se viver em paz tem se preparar a guerra para se guerrear e conseguir a paz para se preparar a guerra e obter a paz. Mas se se quer a paz.

Vergílio Ferreira, in "pensar"

Unknown Soldier disse...

"A guerra é mãe e rainha de todas as coisas; alguns transforma em deuses, outros, em homens; de alguns faz escravos, de outros, homens livres."


Heráclito in "Fragmentos"

Anónimo disse...

Excelente e surpreendente resposta!

WHO AM I ???

A minha foto
Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier