A Ordem dos Cavaleiros Teutónicos, ou Ordo Domus Sanctae Mariae Teutonicorum, foi fundada em 1190 para cuidar de cruzados feridos ou que necessitassem de algum tipo de assistência. Oito anos mais tarde e seguindo o exemplo de outras organizações de cruzados, tais como os Templários e os Hospitalários, a ordem foi transformada numa ordem de cavalaria e subordinada directamente ao Papa. Nos anos subsequentes a ordem cresceu rapidamente e, cerca do ano 1300, possuía já cerca de 300 comendas, correspondentes a dádivas a cruzados piedosos em forma de dinheiro, terras, igrejas, mosteiros, conventos e hospitais.
A sua hierarquia compreendia o Grão-Mestre estando nos patamares inferiores o Grande Comendador (seu imediato), o Grande Marechal (comandante dos cavaleiros e das tropas ordinárias), o Grande Hospitalário (encarregado dos doentes e dos pobres), o Drapier (responsável pelas construções e vestimentas) e o Tesoureiro (administrador das propriedades). O Grão-Mestre, nomeava comendadores locais – chamados Landmeister (mestres de província) – nalgumas províncias, vindo o Mestre de Província na Alemanha a receber mais tarde o título de Deutschmeister (mestre teutónico). Já na sua base e inicialmente, os membros da Ordem eram divididos em cavaleiros (recrutados principalmente na Vestefália), os quais precisavam demonstrar pertencer a antigas famílias nobres, e em sacerdotes, os quais não tinham essa obrigação, sendo a sua principal função administrar os sacramentos aos cavaleiros e aos doentes nos hospitais. Mais tarde foi acrescentada a classe dos Irmãos Servidores ou Sargentos, que usavam uma cruz de apenas três ramos para mostrar que não eram membros plenos da Ordem. Em 1211, o Rei André da Hungria convidou os cavaleiros a estabelecerem-se na fronteira da Transilvânia uma vez que os belicosos Cumanos eram uma ameaça constante e os húngaros esperavam que os cavaleiros oferecessem protecção contra seus ataques. Desta forma o rei dispôs-se a dar-lhes uma considerável autonomia sobre as terras que estes capturassem com a missão de cristianizar seus habitantes, mas contudo não aceitou sua exigência de total independência vindo em 1215 a ordenar-lhes que saíssem da região aprazada. A ordem foi, porém, particularmente favorecida pelo Sacro Império, tendo em 1214, os Grão-Mestres passado a ser membros da Corte Imperial. Em 1217, o Papa Honório III proclamou uma Cruzada contra os pagãos da Prússia e em 1225, o duque Conrado da Masóvia, invadido pelos prussianos, pediu a assistência dos cavaleiros Teutónicos, prometendo ao seu Grão-Mestre como recompensa Culm, Dobrzin bem como todos os territórios que os cavaleiros viessem a conquistar. Decorridos apenas nove anos (1226), o Imperador Alemão ofereceu-lhes a soberania sobre as terras que conquistassem como feudos subjacentes ao Império e a participação do seu Grão-Mestre na Corte Imperial, na qualidade de príncipe.
Cerca de 1237, os Cavaleiros Teutónicos absorveram a Ordem dos Cavaleiros da Espada, uma irmandade menor, mas poderosa, que controlava a Livónia e a Estónia, mas a qual tinha sido enfraquecida por uma séria derrota. Por sua vez o seu Grão-Mestre tornou-se mestre provincial da Livónia, recebendo mais tarde a distinção de príncipe da Corte Imperial, junto com o Grão-Mestre Teutónico.
Em apenas 50 anos, os Cavaleiros Teutónicos conquistaram toda a Prússia e em 160 anos consolidaram seu poder sobre todo o noroeste da Europa, incluindo as actuais Estónia e Letónia. Decorria o ano 1262, quando autorizados pelo Papa os Cavaleiros Teutónicos puderam conservar suas propriedades hereditárias e passaram a poder participar do comércio, o que virtualmente os fez abandonar os seus votos de pobreza conquistando no ano seguinte o monopólio do comércio de cereais na Prússia. Foi lhes também concedido poder para escravizar os pagãos capturados e no que dizia respeito aos convertidos, estes eram dominados como servos feudais, podendo ser convocados a ajudá-los como tropas auxiliares, sujeitas aos maiores perigos.
Os Cavaleiros enfrentavam frequentes revoltas e geralmente passavam apenas alguns anos prestando serviço no leste da Europa antes de irem para as suas propriedades na Alemanha ou Palestina.
No ano de 1291, deu-se a derrota dos cruzados em Acre o que levou a sua expulsão total da Palestina, tendo então os Teutónicos retirado primeiro para Chipre e em seguida para Veneza. Em 1300, o Papa permitiu que se dedicassem exclusivamente à luta contra os pagãos do Báltico. Tendo em 1309, a sua sede transferida para Marienburgo, na Prússia. Entretanto, o Rei cristão da Polónia, temendo o poder dos cavaleiros, aliou-se durante o período que decorreu entre 1325 a 1343, ao Grão-Duque pagão da Lituânia, interrompendo as conquistas da Ordem. Só em 1370, é que a Lituânia veio a sofrer uma pesada derrota as mãos dos Cavaleiros, contudo a intrincada rede de influências e poderes fez com que mas em 1386 o Grão-Duque Lituano se casa-se com a futura herdeira do trono da Polónia convertendo-se assim ao cristianismo e adoptou o nome de Vladislau. Este novo “tecido” e mapa no Leste Europeu (a Lituânia cristianizada e unida à Polónia) veio a revelar-se fatídico para a ordem Teutónica pois a sua principal razão de existir e logo culminou com a perda do apoio da Igreja e dos Príncipes Europeus. Sendo o próprio Papa quem mais rude golpe lhes desferiu ao ordenar-lhes que chegassem a um acordo com antigos inimigos, o recém-formado Reino Polaco-Lituano. Porém os Cavaleiros Teutónicos não querendo perder todo o poder até então adquirido não se submeteram ao que se lhes havia pedido, começando mesmo novas disputas as quais cresceram levando a guerra com dois outros reinos cristãos, a Dinamarca e a Suécia. A ordem dos cavaleiros Teutónicos – então com 83 mil homens em armas – detinha um estado rico e poderoso, mas enfrentava o ressentimento dos seus cerca de 2.140.000 súbditos nativos e a desconfiança dos seus países vizinhos. Em 1410, o Reino Polaco-Lituano, aliado aos ducados alemães de Mecklemburgo e da Pomerânia, reuniram um exército de 160 mil homens e desta forma derrotaram os Cavaleiros Teutónicos, os quais por sua vez conseguiram levar avante os seus propósitos quer de defender a sua fortaleza em Marienburgo quer de negociar um tratado de paz, endossado pelo Papa, e o qual preservava suas fronteiras, como saldo final resultou uma manutenção territorial mas também um enfraquecimento do seu anterior poder na região. Durante mais 56 anos preservaram uma situação periclitante na região e no seu território, vindo esta a culminar em 1466 em nova guerra enfrentando uma coligação dos seus súbditos e dos Polacos ao mesmo tempo. Como resultado tiveram nova derrota porém esta saldou-se como mais penosa uma vez que com ela, perderam a metade ocidental de suas terras bem como a sua soberania, tendo o Grão-Mestre da Ordem reconhecido o Rei da Polónia como seu suserano.
Volvidos cerca de 30 anos (1498) e na tentativa de entrar de novo na senda do poder e fortalecer-se, a Ordem elegeu como Grão-Mestre um membro de uma poderosa família principesca alemã – o príncipe Frederico da Saxónia, terceiro filho do Duque da Saxónia – o qual com o apoio directo da Corte do Sacro Império, recuperou para a Ordem as terras perdidas ao mesmo tempo que se recusou a prestar vassalagem aos reis da Polónia até ao ano da sua morte em 1510. A Polónia, enfraquecida por problemas internos, não reagiu. Convencidos de que estavam no rumo certo, em 1511, a Ordem voltou de novo a decidir escolher um poderoso nobre alemão como seu líder, o Margrave (Senhor feudal Alemão) de Brandeburgo, Alberto, da família Hohenzollern. Tal como o seu antecessor, recusou-se a prestar homenagem ao rei da Polónia, mas desta vez a sua posição encontrava-se enfraquecida pela postura do Imperador Maximiliano, que em 1515 assinou um tratado com a Polónia, exigindo que a Ordem recuasse às suas posições de 1467.
Uma vez mais a sede de poder toldou a mente dos Cavaleiros Teutónicos e o seu Grão-Mestre, não acatou a decisão proferida pelo Imperador, tendo em vez disso, assinado um tratado com a Rússia. A escalada do conflito chegou ao clímax em 1523, quando Martinho Lutero escreveu aos Cavaleiros e convidou-os a quebrar os seus votos e a casarem-se. O Bispo de Sambia, que era igualmente o Landmeister da Prússia em nome da Ordem, aderiu ao protestantismo e exortou os cavaleiros a segui-lo. No ano seguinte, o próprio grão-mestre decidiu abandonar seus votos, casar-se e converter a Prússia num ducado secular luterano, feudo do reino da Polónia, cujo rei, em troca, reconheceu a mudança e o direito do novo duque de fundar sua própria dinastia. Desta situação resultou o seccionamento da ordem tendo parte permanecido fiel à Igreja Católica, na Livónia e no sul da Alemanha, estabelecendo uma nova sede em Mergentheim, no Wurtemberg e como desafio final o próprio Imperador deu-lhes soberania formal em 1530 sobre a Prússia, desafiando desta forma os Hohenzollern.
Ao longo das guerras que se seguiram, os protestantes do norte da Alemanha, valendo-se da rivalidade entre os reis católicos – os Burbons da França e os Habsburgos da Espanha e Áustria –, foram inicialmente vitoriosos. Decorrido meio século de batalhas o Papa e os reis católicos conseguiram unir-se numa Santa Aliança contra os Protestantes, em troca da promessa de partilha de suas riquezas e colónias acabando os príncipes do norte da Alemanha por ser totalmente derrotados. Brandeburgo foi transformado num ducado da casa da Áustria, como muitos outros principados do norte da Alemanha que tinham aderido ao luteranismo e a Prússia foi “reconquistada” voltando a ser administrada pela Ordem, mas agora relativamente enfraquecida e sob o firme controle de um Império Alemão firmemente centralizado sob o domínio dos Habsburgos.
Em 1809, quando Napoleão determinou a sua extinção, a Ordem perdeu as suas últimas propriedades seculares, mas logrou sobreviver até o presente. No decreto papal emitido por Pio XI, a 21 de Novembro de 1929, transformava os Cavaleiros Teutónicos numa ordem clerical composta por sacerdotes, padres e freiras. Actualmente, tem a sua sede em Viena e trabalha primordialmente com objectivos de assistência. A cruz teutónica está na origem da célebre "Cruz de Ferro", condecoração ainda em uso pelas forças armadas alemãs.
1 comentário:
"Helfen! Wehren! Heilen!" ...
Como sabes, este é um tema que me fascina!!
Se quiseres uns livros da Osprey, é só dizeres.
Entretanto, revê o " Alexandre Nevsky", de Eisenstein ;)
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