segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Entrega Real




"Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, era. Até ao fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano.E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só me posso agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real."

Clarice Lispector, in "A Paixão Segundo G.H"

3 comentários:

bruna_first@hotmail.com disse...

Oiii!
obrigado pela música! adorei ela.
obrigado por mais uma visita ao meu blog, volte sempre!
Eu gosto muito desse texto que postaste hoje!
lindo blog, beijos

Anónimo disse...

A complete life may be one ending in so full identification with the non-self that there is no self to die.

Bernard Berenson

dreams.and.nigthmares disse...

“De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?”



Pedro Abrunhosa:“Quem Me Leva Os
Meus Fantasmas”

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WHO AM I ???

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Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier