sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Musa dos Olhos Verdes



Musa dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do ancião no extremo alento,
E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges
C’os fúlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;

Tu que fazes pulsar o seio às virgens;
Tu que às mães carinhosas
Enches o brando, tépido regaço
Com delicadas rosas;

Casta filha do céu, virgem formosa
Do eterno devaneio,
Sê minha amante, os beijos meus recebe,
Acolhe-me em teu seio!

Já cansada de encher lânguidas flores
Com as lágrimas frias,
A noite vê surgir do oriente a aurora
Dourando as serranias.

Asas batendo à luz que as trevas rompe,
Piam noturnas aves,
E a floresta interrompe alegremente
Os seus silêncios graves.

Dentro de mim, a noite escura e fria
Melancólica chora;
Rompe estas sombras que o meu ser povoam;
Musa, sê tu a aurora!

Machado de Assis in "Falenas"

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Skyline


Filme com história completamente louca, despropositada e inconsequente. MUITO MAU…apenas valem os efeitos especiais…mais uma “Barracada” Hollywoodesca.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Apaixonado


Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.

Jorge Luis Borges in "História da Noite"

domingo, 26 de dezembro de 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ser Real é a Única Coisa Verdadeira do Mundo


Todas as teorias, todos os poemas
Duram mais que esta flor.
Mas isso é como o nevoeiro, que é desagradável e húmido,
E maior que esta flor...
O tamanho, a duração não têm importância nenhuma...
São apenas tamanho e duração...
O que importa é a flor a durar e ter tamanho...
(Se verdadeira dimensão é a realidade)
Ser real é a única coisa verdadeira do mundo.

Alberto Caeiro in "Poemas Inconjuntos"

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Tempo é Mudança


"O tempo é a dimensão da mudança. Sem percepção da mudança, não há e não pode haver percepção do tempo. E as diferentes atitudes para com o tempo são corolários de diferentes atitudes para com a mudança."

Walter Kaufmann in "O Tempo é um Artista" 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Requiem For A Dream - Clint Mansell


Composed by Clint Mansell and performed by the Kronos Quartet

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vertentes

As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores

Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga

A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge

A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a água cai sem tempo

António Ramos Rosa in “Matéria de Amor”

domingo, 19 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sua Beleza

Sua beleza é total
Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual

Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser

Sophia de Mello Breyner Andresen in "O Nome das Coisas"

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

No sé cómo, ni cuándo, ni qué cosa

No sé cómo, ni cuándo, ni qué cosa
sentí, que me llenaba de dulzura:
sé que llegó a mis brazos la hermosura,
de gozarse conmigo cudiciosa.

Sé que llegó, si bien, con temerosa
vista, resistí apenas su figura:
luego pasmé, como el que en noche escura
perdido el tino, el pie mover no osa.

Siguió un gran gozo a aqueste pasmo, o sueño
—no sé cuándo, ni cómo, ni qué ha sido—
que lo sensible todo puso en calma.

Ignorallo es saber; que es bien pequeño
el que puede abarcar solo el sentido,
y éste pudo caber en sola l'alma.

Francisco de Medrano

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Rammstein - Frühling In Paris / Primavera Em Paris


Im lichtkleid kam sie auf mich zu / Num vestido de luz ela veio até mim
Ich weiß es noch wie Heut': / Lembro-me como se fosse hoje
Ich war so jung, / Eu era tão jovem,
Hab' mich geniert / Tive vergonha
Doch hab' es nie bereut. / Mas nunca me arrependi

Sie rief mir Worte ins Gesicht, / Ela atirou-me palavras ao rosto
Die zunge Lustgestreut; / A língua espalhava desejo
Verstand nur ihre Sprache nicht; / Só não entendia seu idioma
Ich hab' es nicht bereut. / Eu nunca me arrependi

Oh non rien de rien / Oh não, nada de nada
Oh non je ne regrètte rien / Oh não, não me arrependo de nada
 
Wenn ich ihre Haut verließ - / Quando eu deixei sua pele
Der frühling blutet in Paris. / A primavera sangrou em Paris
 
Ich kannte meinen Körper nicht / Eu não conhecia meu corpo
Den Anblick so gescheut / A visão tão evitada
Sie hat ihn mir bei Licht gezeigt / Ela mostrou-me a luz em mim
Ich hab es nicht bereut / Eu nunca me arrependi
 
Die Lippen oft verkauft so weich / Os lábios vendidos e macios
Und ewig sie berühren / E sempre tocá-los
Wenn ich ihren Mund verließ / Quando eu deixei sua boca
Dann fing ich an zu frieren / Comecei a congelar
 
Sie rief mir Worte ins Gesicht, / Ela atirou-me palavras ao rosto
Die zunge Lustgestreut; / A língua espalhava desejo
Verstand nur ihre Sprache nicht; / Só não entendia seu idioma
Ich hab' es nicht bereut. / Eu nunca me arrependi

Oh non rien de rien / Oh não, nada de nada
Oh non je ne regrètte rien / Oh não, não me arrependo de nada

Wenn ich ihre Haut verließ - / Quando eu deixei sua pele
Der frühling blutet in Paris. / A primavera sangrou em Paris

Ein Flüstern fiel mir in den Schoß / Um sussurro caiu no colo dela
Und führte feinen Klang / E levou a sons finos
Hat viel geredet nichts gesagt / Conversei muito mas não disse nada
Und fühlte sich gut an / E pareceu bom

Sie rief mir Worte ins Gesicht, / Ela atirou-me palavras ao rosto
Die zunge Lustgestreut; / A língua espalhava desejo
Verstand nur ihre Sprache nicht; / Só não entendia seu idioma
Ich hab' es nicht bereut. / Eu nunca me arrependi

Oh non rien de rien / Oh não, nada de nada
Oh non je ne regrètte rien / Oh não, não me arrependo de nada

Wenn ich ihre Haut verließ - / Quando eu deixei sua pele
Der frühling blutet in Paris. / A primavera sangrou em Paris

Edith Piaf - Non, Je ne regrette rien

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Quanto Sinto, Penso

Severo narro. Quanto sinto, penso.
Palavras são idéias.
Múrmuro, o rio passa, e o que não passa,
Que é nosso, não do rio.
Assim quisesse o verso: meu e alheio
E por mim mesmo lido.

Ricardo Reis in "Odes"

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tudo


"Tudo que existe, existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo."

Pessoa, Fernando in "Livro do Desassossego"





domingo, 12 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Darude - Sandstorm

Não Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem Causa


Meu gesto que destrói
A mole das formigas,
Tomá-lo-ão elas por de um ser divino;
Mas eu não sou divino para mim.

Assim talvez os deuses
Para si o não sejam,
E só de serem do que nós maiores
Tirem o serem deuses para nós.

Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
Que cremos serem deuses, não sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa.

Ricardo Reis in "Odes"

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Stripped


Come with me
Into the trees
We'll lay on the grass
And let the hours pass

Take my hand
Come back to the land
Let's get away
Just for one day

Let me see you
Stripped down to the bone
Let me see you
Stripped down to the bone

Metropolis
Has nothing on this
You're breathing in fumes
I taste when we kiss

Take my hand
Come back to the land
Where everything's ours
For a few hours

Let me see you
Stripped down to the bone

Let me see you
Stripped down to the bone

Let me hear you
Make decisions
Without your television
Let me hear you speaking
Just for me

Let me see you
Stripped down to the bone

Let me hear you speaking
Just for me

Let me see you
Stripped down to the bone
Let me hear you crying
Just for me

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Saber Esperar


Quem sabe esperar o bem que deseja não toma a decisão de se desesperar se ele não chega; aquele que, pelo contrário, deseja uma coisa com grande impaciência, põe nisso demasiado de si mesmo para que o sucesso seja recompensa suficiente. Há pessoas que querem tão ardente e determinantemente certa coisa, que por medo de perdê-la, não esquecem nada do que é preciso fazer para perdê-la. As coisas mais desejadas não acontecem; ou se acontecem, não é no tempo nem nas circunstâncias em que teriam causado extraordinário prazer.

Jean de La Bruyére in "Os Caracteres"

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Esplendor


E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta,
Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha.

O que de sonho jaz nas encadernações vetustas,
Nas assinaturas complicadas (ou tão simples e esguias) dos velhos livros.

(Tinta remota e desbotada aqui presente para além da morte,
O que de negado à nossa vida quotidiana vem nas ilustrações,
O que certas gravuras de anúncios sem querer anunciam.

Tudo quanto sugere, ou exprime o que não exprime,
Tudo o que diz o que não diz,
E a alma sonha, diferente e distraída.

Ó enigma visível do tempo, o nada vivo em que estamos!

Álvaro de Campos in "Poemas"

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Kraftwerk - Radio Activity


Radioactivity
Is in the air for you and me

Radioactivity
Discovered by Madame Curie

Radioactivity
Tune in to the melody

Radioactivity
Is in the air for you and me

Radio Aktivitat
Fur dich und mich in All entsteht
(For you and me in space comes into being)

Radio Aktivitat
Strahlt Wellen zum Empfangsgerat
(Sends waves to receiver)

Radio Aktivitat
Wenn's um unsere zukunft geht
(When it's about our future)

Radio Aktivitat
Fur dich und mich in All entsteht
(For you and me in space comes into being)

Radioactivity
Is in the air for you and me

Radioactivity
Discovered by Madame Curie

Radioactivity
Tune in to the melody

Radioactivity
Is in the air for you and me

Radioactivity
Is in the air for you and me

domingo, 5 de dezembro de 2010

sábado, 4 de dezembro de 2010

Walking


To walk abroad is, not with eyes,
But thoughts, the fields to see and prize;
Else may the silent feet,
Like logs of wood,
Move up and down, and see no good
Nor joy nor glory meet.

Ev'n carts and wheels their place do change,
But cannot see, though very strange
The glory that is by;
Dead puppets may
Move in the bright and glorious day,
Yet not behold the sky.

And are not men than they more blind,
Who having eyes yet never find
The bliss in which they move;
Like statues dead
They up and down are carried
Yet never see nor love.

To walk is by a thought to go;
To move in spirit to and fro;
To mind the good we see;
To taste the sweet;
Observing all the things we meet
How choice and rich they be.

To note the beauty of the day,
And golden fields of corn survey;
Admire each pretty flow'r
With its sweet smell;
To praise their Maker, and to tell
The marks of his great pow'r.

To fly abroad like active bees,
Among the hedges and the trees,
To cull the dew that lies
On ev'ry blade,
From ev'ry blossom; till we lade
Our minds, as they their thighs.

Observe those rich and glorious things,
The rivers, meadows, woods, and springs,
The fructifying sun;
To note from far
The rising of each twinkling star
For us his race to run.

A little child these well perceives,
Who, tumbling in green grass and leaves,
May rich as kings be thought,
But there's a sight
Which perfect manhood may delight,
To which we shall be brought.

While in those pleasant paths we talk,
'Tis that tow'rds which at last we walk;
For we may by degrees
Wisely proceed
Pleasures of love and praise to heed,
From viewing herbs and trees.

Thomas Montague Traherne

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Arcade Fire - Wake Up

Somethin’ filled up
my heart with nothin’,
someone told me not to cry.

But now that I’m older,
my heart’s colder,
and I can see that it’s a lie.

Children wake up,
hold your mistake up,
before they turn the summer into dust.

If the children don’t grow up,
our bodies get bigger but our hearts get torn up.
We’re just a million little god’s causin rain storms turnin’ every good thing to rust.

I guess we’ll just have to adjust.

With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am goin’ to be
when the reaper he reaches and touches my hand.

With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am goin’
With my lighnin’ bolts a glowin’
I can see where I am go-goin’

You better look out below!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Notas para uma Regra de Vida


1. Cada um de nós não tem de seu nem de real senão a sua própria individualidade.
2. Aumentar é aumentar-se.
3. Invadir a individualidade alheia é, além de contrário ao princípio fundamental, contrário (por isso mesmo também) a nós mesmos, pois invadir é sair de si, e ficamos sempre onde ganhamos (Por isso o criminoso é um débil, e o chefe um escravo.) (O verdadeiro forte é um despertador, nos outros, de energias deles. O verdadeiro mestre é um mestre de o não acompanharem.)
4. Atrair os outros a si é, ainda assim, o sinal da individualidade.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

WHO AM I ???

A minha foto
Wait until the war is over And we're both a little older The unknown soldier