sábado, 26 de dezembro de 2009

Entre o Luar e a Folhagem



Entre o luar e a folhagem, 


Entre o sossego e o arvoredo,
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo.
Segue-o minha alma na passagem.

Tênue lembrança ou saudade, 


Princípio ou fim do que não foi,
Não tem lugar, não tem verdade.
Atrai e dói.
Segue-o meu ser em liberdade.


Vazio encanto ébrio de si,


Tristeza ou alegria o traz?
O que sou dele a quem sorri?
Nada é nem faz.
Só de segui-lo me perdi.


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

1 comentário:

  1. Perder é começar. A minha vida
    foi movimento em cerne opaco e frígido...
    E quando sei que este momento eterno
    em mim percorre sulcos, veias, sonhos,
    outro momento abraça-me o porvir —
    e desconheço a margem onde navegar,
    onde aportar o peso do caminho.

    Perder é começar. Por isso a ténue sombra
    desenha no sigilo os abismais instantes
    onde existiu, uma vez, qualquer destino exacto.

    'Perder', António Salvado

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